11-09-2014 | Fonte: SEMANARIO ECONÓMICO
Fonte contactada
pelo Semanário Económico referiu que, para o BNA, não faz diferença se a
substituição que solicitou for feita por uma assembleia de accionistas
Pouco mais de dois anos depois de ter deixado
a presidência do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho poderá abandonar a
presidência do Banco Valor que ocupa há pouco mais de um ano, após se ter
tornado o seu accionista maioritário.
A eminente
saída da presidência do Banco Valor
relaciona-se com diligências que o Banco Nacional de Angola iniciou há algum tempo e que,
segundo fontes próximas do processo, estão ligadas à passagem de Álvaro
Sobrinho pelo BESA, do qual foi presidente da Comissão Executiva entre 2000 e
2012.
Detido em 55,7% pelo Banco Espírito Santo (BES) baseado em
Lisboa, e em 44.3% por vários
accionistas angolanos, o BESA foi objecto de uma intervenção do Banco Nacional
de Angola (BNA) quando se tornou evidente que apresentava um endividamento
estimado em mais de cinco mil milhões de dólares contraído durante a
presidência de Álvaro Sobrinho.
Antes da intervenção do BNA, o Governo de
Angola tinha emitido uma garantia soberana de pouco mais de quatro mil milhões
de dólares a favor do BES, que veio a ser revogada quando este banco entrou em
colapso. Acto contínuo, uma auditoria às contas do BESA revelou uma situação de
crédito mal parado, de proporções elevadíssimas.
Na semana passada, o semanário Expansão
revelou que a KPMG se tinha recusado a validar as contas do BES,
"nomeadamente devido ao saneamento decidido no BESA".
A KPMG, segundo escreve o Expansão, sugeria
igualmente que perante a falta de "reforço" a ser subscrito pelos
actuais accionistas, há a possibilidade do Estado “vir a substituir aos
mesmos".
Fonte próxima deste processo disse ao
Semanário Económico que em resultado de
uma assembleia de accionistas realizada
recentemente, a quota detida por Álvaro
Sobrinho naquele banco, baixou de cinco para dois por cento, tendo em conta que
não participou na referida reunião.
Além de solicitar a indicação de um outro
presidente para o Conselho de Administração, o BNA também requereu ao Banco
Valor a substituição dos administradores João Moita e Lígia Madaleno. Provenientes
do BESA, ambos têm assento, tanto no Conselho de Administração, como na
Comissão Executiva onde, segundo informação disponível na página do banco na
Internet, ocupam respectivamente os
lugares de "CFO"( Chief Finance Officer) e de CCO, (Chief Commercial Officer).
O Conselho de Administração é presidido por Álvaro
Sobrinho, enquanto que a Comissão
Executiva tem à frente, Rui Miguêns, antigo vice-governador do BNA e accionista
maioritário do banco, até à entrada de Álvaro Sobrinho.
Segundo alguns observadores, o processo agora
em curso, está de acordo com a atitude que o BNA tomou desde que o Banco Valor
registou uma alteração no seu modelo de governação. " Não tendo nunca
reconhecido o modelo que nasceu após o
aumento de capital, o BNA remeteu todo o seu expediente para Rui Miguêns e nunca para Álvaro Sobrinho. O
que se assiste hoje é apenas o epílogo".
Fonte contactada pelo Semanário Económico
referiu que, para o BNA, não faz diferença se a substituição que solicitou for
feita por uma assembleia de accionistas." O que interessa ao BNA é que ela
ocorra dentro dos prazos e tanto quanto sabemos este prazo está à beira de
vencer", afirmou.
Álvaro Sobrinho assumiu a presidência do Banco
Valor em Julho do ano passado, num processo que incluiu uma operação de aumento
de capital.
À data da sua entrada no Valor, este era
citado tendo um activo de 73.2 milhões de dólares, detendo Rui Miguêns nessa
altura, 20% do seu capital.
O relatório e
contas de 2013 alude a um aumento dos activos “em 116%”, passando de 7,105 milhões de kwanzas, para
15,120 milhões de kwanzas. "Deste aumento destaca-se o aumento de
crédito que duplicou passando de 2,107 mil milhões de kwanzas, e do imobilizado
que passou de 1,222 milhões de kwanzas para 4,040 milhões de kwanzas". O
relatório diz igualmente que os novos créditos concedidos durante o exercício
de 2013 "são fundamentalmente
créditos à habitação e a empresas corporativas consideradas de risco
reduzido".
Segundo o mesmo documento, durante o exercício
de 2013 foram adquiridas obrigações do Tesouro do Estado Angolano, a
médio/longo prazo. Este investimento demonstra o interesse do banco em
colaborar com o esforço do Estado angolano no desenvolvimento do país,
optimizando igualmente a rentabilização da liquidez disponível."
No relatório, lê-se que “o aumento do activo
foi acompanhado de um aumento do passivo em 80 por cento, que passou de 6,267
milhões de kwanzas em 31 de Dezembro de 2012, para 11,259 milhões de kwanzas em
31 de Dezembro de 2013. Este aumento é fundamentalmente justificado por um
aumento dos depósitos de clientes de 3,782 milhões de kwanzas durante o ano de
2013 e evidencia que o banco está a atingir outros dos seus principais objectivos:
captar mais clientes".
O levantamento anual das contas diz também que
" a estrutura de depósitos manteve-se idêntica a 2012, com as empresas a
terem predominância, representando 73 por cento do tirar de depósitos no final
de 2013. O aumento dos depósitos verificou-se fundamentalmente nos depósitos a
prazo o que demonstra a preocupação do banco na gestão de liquidez".