Rafael Marques de
Morais, 25 de Julho de 2016
Flávio Agostinho
Carizo, de 25 anos, foi torturado até à morte por agentes policiais, com a sua
esposa e alguns amigos a testemunhar o acto, como se de um espectáculo público
se tratasse. Por exemplo, depois de lhe amarrarem os testículos, os agentes
espremiam-nos a seu bel-prazer, entre outras atitudes de violência extrema.
Tudo aconteceu no mês passado, na 39.ª Esquadra do Bairro Kikolo, no Município
de Cacuaco. A unidade é conhecida como a Esquadra do Cauelele, e a tortura foi
infligida a cinco jovens; dois deles sobreviveram e encontram-se detidos em
Viana.
Reiteradas vezes
e de forma aleivosa, Rui Mangueira, o ministro da Justiça, tem informado a
comunidade internacional acerca da inexistência de violações dos direitos
humanos em Angola. Ora, Maka Angola reporta regularmente casos de tortura
policial. Talvez para o ministro a tortura contra cidadãos comuns seja apenas
mais uma das instâncias de “sofisticação” legal do poder que representa. Os
cidadãos não valem nada, só as mentiras e a arrogância dos dirigentes é que são
dignas de nota.
Um dos
sobreviventes do episódio de tortura com que iniciámos este texto, e que
actualmente se encontra detido no Estabelecimento Prisional de Viana, descreve
ao Maka Angola a brutalidade policial.
Bernardo Correia
Gaspar “Matata”, de 22 anos, viu e sentiu o seu próprio par de muletas a
vergastar-lhe o corpo. Ao invés de servir de apoio à perna esquerda, que no ano
passado foi atingida por dois tiros disparados por um vizinho, as muletas
passaram a instrumento de tortura nas mãos de agentes policiais.
Sobre o estado em
que se encontra, Matata diz que só Deus sabe como ainda está vivo. Pior sorte
teve o seu amigo Flávio Agostinho Carizo, judoca, que lhe morreu nos braços, na
cela.
A 15 de Junho,
por volta das 15h00, Matata estava com a namorada, Letícia, em casa da sua
madrasta. Aí se encontrava também o irmão, Rogério Gaspar, de 20 anos, que por
sua vez recebera a visita do amigo Tômbwa Eduardo, de 24 anos. Os dois estavam
a ver um filme de Jean Claude Van Damme. Foi Tômbwa quem abriu a porta e
respondeu que Matata se encontrava, naquele momento, no quarto com a namorada.
Mesmo sem que as autoridades exibissem qualquer mandado de captura ou de busca,
conforme testemunhos de vários entrevistados, os quatro foram detidos.
“Sem eu saber de
nada, começaram a espancar-me ali, com a minha própria muleta. Detiveram também
a minha namorada e o meu irmão Pedro Rogério Gaspar, de 20 anos”, conta o
jovem.
Um outro amigo,
Ilídio Manuel Graça, de 17 anos, que se deslocara à casa da vizinha para
comprar cerveja, também já se encontrava na viatura policial e a ser espancado.
Por sua vez, a
irmã mais velha de Matata, Jandira Gaspar, que assistiu igualmente à captura,
explica ainda que os agentes supostamente tinham a missão de capturar cinco
jovens que se encontravam a beber no quintal da vizinha. “Quatro dos moços
fugiram e a polícia matou um deles com um tiro nas costas, o Márcio. Os mesmos
polícias ainda saquearam a casa da senhora, levaram um rádio, um descodificador
da Zap e beberam as cervejas que ela estava a vender.” Nesse mesmo quintal onde
se dirigiu para comprar cerveja, Ilídio Manuel Graça foi detido.
Tortura pública.
Os agentes
policiais dividiam-se em duas viaturas de patrulha. “Matata” viu o seu amigo
Flávio Agostinho Carizo, ser transferido da segunda para a primeira viatura,
onde foi colocado juntamente com o seu irmão, a namorada e Tômbwa.
Flávio saia de
casa quando os agentes policiais o detiveram. “A polícia fez tiroteio para
afugentar as pessoas e dispararam contra ele [Flávio]. Despiram-no ali mesmo.
Os polícias não tinham mandato de captura. Alguns vestiam coletes do SIC
[Serviço de Investigação Criminal]”, afirma a irmã Deolinda Coelho.
Um dos agentes
pediu aos colegas que libertassem a namorada de “Matata” e, conforme o
depoimento do próprio, o seu pedido foi ouvido. Antes, contudo, “os agentes
deram-lhe várias bofetadas no rosto e roubaram-lhe os 15 mil kwanzas que tinha
consigo”, menciona Jandira Gaspar, irmã de “Matata” e Rogério.
“Os seis agentes
que nos estenderam na carroçaria do patrulheiro começaram a bater-nos aos
quatro, ali mesmo, com as minhas muletas e uma barra de ferro que tinham no
carro. Um das muletas ficou toda vergada”, denuncia “Matata”.
Primeiramente, os
agentes encaminharam os detidos para o Posto Policial de Ndala Mulemba, afecto
à 39.ª Esquadra. Jandira Gaspar conta que seguiu os captores até esta unidade,
juntamente com outros familiares, e assistiu à tortura dos detidos.
“É uma unidade de
contentor e não tem vedação. Vimos os polícias a abrirem a testa do Flávio
[Carizo] com uma coronhada de AK na cabeça. Ele tinha as mãos algemadas [na
parte superior de uma carrinha Toyota], já lhe tinham mudado a roupa”,
denuncia. Sara Mendonça, esposa de Flávio, também assistiu a tudo.
Por sua vez,
Tômbwa menciona que “os polícias usavam mais a muleta do “Matata” para
bater-lhe na zona da perna onde levou o tiro”.
Tômbwa Eduardo
estudou Ciências Jurídicas e Económicas e trabalha numa cadeia de
supermercados. “Eram muitos polícias a baterem-nos, incluindo uma equipa do SIC
[Serviço de Investigação Criminal]. Usavam porretes, as muletas, ferros e tudo
o que tivessem às mãos. Não sabíamos por que estávamos a ser
torturados”, conta.
Nessa mesma
noite, foram transferidos para a 39.ª Esquadra, conhecida como Esquadra do
Cauelele.
“No Cauelele, os
investigadores queriam que assinássemos papéis a incriminar-nos de assaltos à
mão armada. Eu tenho bases jurídicas e tentei argumentar que não podia assinar
por um crime que desconheço. Nem sequer fomos ouvidos”, lamenta Tômbwa.
“Como a minha
família apareceu, os investigadores deram-me a escolher. Ou eu assinava e era
libertado, ou então continuariam a torturar-me. Assinei e libertaram-me [na
manhã de 16 de Junho]”, revela. Rogério Gaspar também foi libertado.
Tortura até à
morte
Matata, Flávio e
Ilídio continuaram a ser torturados.
Bernardo Correia
Gaspar identifica o investigador Chagas e os agentes Saidy e Peixe como os
principais executores da tortura.
“Algemaram-nos abraçados a um tronco e
continuaram a torturar-nos com barras de ferro, tábuas e cabos de
electricidade. Tínhamos de responder sim a tudo o que nos acusavam, ou
aumentavam a tortura”, relata a vítima.
Segundo Bernardo
Correia Gaspar, “nós éramos teimosos. Não queríamos assumir crimes que não
cometemos e que desconhecíamos”.
Os agentes
alegadamente exigiam que os jovens assumissem, como crimes específicos, o
assalto à armada a uma residência em Caxito, na província do Bengo, e ainda
crimes de homicídio.
“Eu assisti à
tortura dos miúdos. Entrei na esquadra porque conheço vários polícias. O Ilídio
estava amarrado, abraçado a uma mangueira. E lhe açoitavam com cabos eléctricos
tipo no tempo da escravatura. Cada vez que recusavam aceitar os crimes que lhes
imputavam, os polícias aumentavam a tortura. Eu vi e ouvi”, enfatiza Jandira
Gaspar.
Por volta das
6h00 de domingo, 17 de Junho, os torturadores retiraram as vítimas da cela,
para dar início a mais uma sessão de tortura.
Jandira Gaspar
conta o que viu então.
“Os polícias
amararram uma corda nos testículos do Carizo e iam puxando enquanto lhe
perfuravam as pernas com uma faca e um ferro”, descreve.
Matata prossegue:
“Os polícias usaram uns porretes de metal, tábuas e cabos de electricidade, e
batiam-nos em todo o corpo. O [Flávio] Carizo estava muito inflamado com a
tortura.”
Nesse mesmo dia,
“a esposa do meu filho [Sara] viu-o a ser transportado para uma viatura às
costas de um polícia. Ela aproximou-se, mas os outros polícias não permitiram
que ela visse mais, pediram-lhe um pano para tapá-lo, dizendo que estava cheio
de febres. O meu neto, de três anos, viu o pai e pôs-se logo a chorar aos
gritos”, explica o pai de Flávio, Agostinho Carizo. Levaram-no para o Hospital
Municipal de Cacuaco, onde fez um raio-x, levou uma injecção e foi devolvido à
cela.
No dia 18 de
Julho, e conforme o seu testemunho, Deolinda Coelho pediu aos oficiais da 39.ª
Esquadra que evacuassem o seu irmão para o hospital, devido ao seu estado de
saúde alarmante. “Os polícias disseram-me que o caso era da responsabilidade do
Serviço de Investigação Criminal [cujos operacionais se encontravam ausentes] e
que nada podiam fazer. Era preso do SIC.” A irmã foi ao piquete do SIC no
Comando da Divisão de Cacuaco para solicitar a intervenção deste órgão mas,
como diz, “o oficial de serviço começou a dar-me voltas até o meu irmão
morrer.”
Pouco depois das
6h00 do dia 19 de Julho, os investigadores voltaram à rotina de retirar os
detidos da cela para mais uma sessão de tortura. “Voltaram a pôr-nos na cela e
o Flávio acabou por morrer nos meus braços”, confirma Bernardo Correia Gaspar
Matata.
Matata diz que
todos os detidos que se encontravam na cela gritaram e pediram que o corpo
fosse removido, mas sem sucesso. Só por volta do meio-dia “vieram tirá-lo da
cela. Já estava morto desde quase às 7h00. Estava morto no meu colo”.
“Conheço os que
torturaram o Carizo até à morte. É o chefe Chagas, da Investigação Criminal, da
Esquadra do Cauelele, o Peixe e o Saidy. Também reconheço o carcereiro que os
ajudou a torturar-nos.”
O pai de Flávio
Agostinho Carizo, acrescenta:
“Quando escutei
que o meu filho estava nas mãos da polícia não me preocupei. Julgava que a
autoridade investigaria e faria justiça. Afinal, este país não tem leis, não
tem ordem. A polícia levou o meu filho para executá-lo, num país que diz não
ter pena de morte”, começa.
Agostinho Carizo
explica que, ao saber da notícia, se dirigiu ao gabinete do oficial do SIC, em
serviço no Comando da Divisão de Cacuaco, para saber o que se passava, tendo
sido informado de que o filho se encontrava “nos cuidados intensivos”, no
Hospital Municipal de Cacuaco. “Já sabíamos que estava morto desde às 7h00.
Fomos directamente à morgue do hospital, onde nos informaram que o menino já
estava morto quando chegou ao hospital e que o seu corpo foi transferido para a
morgue do Hospital Josina Machel”, continua.
Na morgue,
“encontrámos o corpo na pilha dos desconhecidos e abandonados”. Quando
verificámos o registo de entrada, “os polícias escreveram que o ‘desconhecido’
teve morte súbita”, denuncia o pai.
Deolinda Coelho
menciona que “no dia 20 foi ao gabinete do chefe do SIC [Comando da Divisão do
Cacuaco], João Saldanha para denuniciar a morte do meu irmão. Ele pediu uma
autópsia, que se fez no dia 21.”
“No dia 22
entreguei-lhe o resultado da autópsia e, na minha presença, ele ligou ao
comandante da Esquadra de Cacuaco para lhe pontualizar. Ele [comandante] negou
[qualquer responsabilidade sobre o homicídio] e disse que devia ser o SIC a
resolver o assunto e depois informá-lo apenas dos resultados”, continua.
“Já fiz várias
cartas a exigir esclarecimentos e justiça por parte da Polícia Nacional e
continuam a ignorar-me. Até hoje, a polícia não informou sequer a razão que os
levou a deter o meu filho. Não sei porque prenderam e assassinaram o meu
filho”, afirma Agostinho Carizo.
A certidão de
óbito passada pelo Hospital Municipal de Cacuaco, a 21 de Julho, na posse de
Maka Angola, confirma o resultado da autópsia: o jovem morreu em consequência
de traumatismos cranianos “e dos testículos”, resultantes de “agressões físicas
com objecto contundente”.
Flávio Agostinho
Carizo foi enterrado a 25 de Junho, dia em que completaria 26 anos de vida. O
dia de nascimento foi o dia do seu enterro.
A transferência
de Matata
Depois de
transferido para o Comando Municipal de Cacuaco, da Polícia Nacional, Bernardo
Correia Gaspar passou aí cinco dias e foi finalmente ouvido pelo procurador de
serviço.
Jandira Gaspar
que tem acompanhado de perto o processo do irmão, refere que, na Esquadra de
Cauelele, os investigadores instruíram um processo acusando os jovens de terem
assassinado um agente da Polícia Nacional, de serem assaltantes de viaturas
(batuqueiros), e de terem realizado assaltos no Bengo. Acrescenta que “o
procurador achou que as acusações não faziam sentido nenhum, até porque o Matata
mal consegue caminhar sem o apoio das muletas. Disse que os colegas prendiam à
toa. Por isso levaram o meu irmão para o Hospital Prisão de São Paulo, para ele
não ser mais ouvido e com as acusações que inventaram”, denuncia Jandira.
À chegada do
Hospital Prisão de São Paulo, Matata conta: “Fui espancado com o cabo da
pistola, com bofetadas e pontapés, pelo chefe Messias, que comandou a minha
transferência de Cacuaco para lá.” Protestava contra a sua transferência porque
queria ser ouvido pelo procurador.
O jovem refere
que tem cicatrizes por todo o corpo. “Estou com lesões nas costelas. Não durmo
por causa das dores. Bateram-me muito. Só mesmo Deus! Estou vivo por causa
dele”, confessa.
Fonte do Comando
Municipal de Cacuaco, sob anonimato, refere que o jovem “está como um preso
privado do Esquadrão do Cauelele [da Esquadra do Cauelele]. O objectivo é
matá-lo e depois inventarem que era um bandido altamente perigoso”.
Maka Angola tem
acompanhado, nas últimas duas semanas, as diligências de Maria Manuela junto do
Comando Municipal de Cacuaco para obter, no mínimo, o número do processo de
detenção de “Matata” e alguma justificação para a sua detenção, mas sem sucesso
até agora.
Esta é a mesma
polícia que se recusa a responder às petições de Agostinho Carizo, o pai do
malogrado Flávio.
A estratégia das
autoridades policiais e judiciais de não responderem aos cidadãos quando são
elas próprias a violar as leis, a abusar e a matar cidadãos indefesos e
presumíveis inocentes não deve deixar de ser denunciada. O silêncio dos
matadores tem de ser trazido a público, e Maka Angola acompanhará o caso até
que se faça justiça.
Antecedentes
Em 2013, Matata
encontrava-se a viver em Viana, em casa da sua tia Emília, quando forças
policiais foram capturá-lo sob suspeita de ter participado no assassinato de um
agente policial, conhecido apenas por Frank.
Mais uma vez,
passou pelo crivo da tortura. “Até a tia Emília foi espancada pela polícia, no
acto de detenção do Matata”, conta Jandira Gaspar.
Antes de
ingressar na Polícia Nacional, Frank, mestre em judo, havia fundado e liderado
um grupo denominado Mana Moça, do qual Matata fez parte. “Havia de tudo no
grupo, delinquentes, jovens que gostavam de lutar na rua e outros que só
gostavam de organizar festas.”
“O Frank era meu
kota, meu amigo e da minha família. Ele gostava muito de mim. Nem me passava
pela cabeça que eu pudesse ser acusado de tal crime. Mas, mesmo depois de ser
polícia, ele continuava a ser delinquente. Ele foi morto num outro bairro e
levado para a Esquadra do Cauelele [39ª] já morto”, conta Matata.
“Os polícias
inventaram que o Frank ainda chegou à esquadra com vida e lhes disse que o
Matata, o Matabicho, o Leão e o Wassaluka é que lhe tínhamos emboscado e
disparado contra ele”, explica.
Depois de um ano
detido, Matata foi a julgamento em Abril de 2014, no Tribunal Provincial de
Luanda.
“No tribunal, o
jovem que levou o Frank à esquadra disse a verdade ao juiz. Que ele estava com
o Frank quando homens mascarados atacaram o agente policial a tiro, à saída de
uma festa, e que o levou dali já morto”, explica Matata.
Depois de um ano
detido, a 17 de Novembro de 2014, o juiz absolveu-o, tendo sido provada a sua
inocência. Em liberdade, Matata dedicou-se à profissão de barbeiro.
O jovem confessa
ter cometido um crime que nunca foi investigado. “Em 2013 ameacei um rapaz com
uma garrafa, e roubei-lhe o telefone. Este foi o meu único crime, e não fui
preso por isso. Já lutei muitas vezes na rua, em grupo, mas nunca tive uma
arma.”
A 3 de Outubro de
2015, um vizinho, identificado como Mendes, atingiu Matata com dois tiros na
zona da tíbia e do perónio. “O meu filho estava de passagem aqui na rua, com um
miúdo que o acompanhava. O Mendes fez pontaria contra ele de perto, com uma AK
[de cano cortado] e disparou três tiros”, explica a mãe, Maria Manuela. Matata
confirma que foi atingido por dois dos tiros. O autor foi mais tarde
identificado como colaborador do serviço de investigação da Esquadra do
Cauelele.
Do hospital para
a cadeia
Matata foi
internado no Hospital Provincial de Caxito, no Bengo. Agentes policiais
interromperam o seu tratamento e detiveram-no. “Passei seis dias na cela do
Comando Municipal de Cacuaco, com a perna a apodrecer, sem nenhuma assistência
médica. Um dos investigadores viu o meu estado de gravidade e pressionou para a
minha transferência para o Hospital Prisão de São Paulo”, afirma Matata.
“O sector de
investigação usava a prisão para extorquir dinheiro da família. Telefonavam-me
constantemente a exigir primeiro 150 mil, e como não tínhamos como pagar foram
baixando o preço até mil kwanzas, para deixarem o meu filho. O tal chefe Chagas
e o [João] Saldanha, da investigação criminal de Cacuaco, é que me ligavam
directamente”, denuncia a mãe.
A vítima passou
seis meses em São Paulo, tendo sido transferido para a Comarca Central de
Luanda, onde passou mais um mês. A 20 de Abril de 2016 foi libertado sob termo
de identidade e residência, com o Processo n.º 3456/15, assinado pela
procuradora Florinda Agostinho Nelomba, junto do Comando Municipal de Cacuaco.
Dias antes desta
detenção, alguns agentes da Esquadra do Cauelele prenderam-no na rua no período
de tarde. “Torturaram-no, sobretudo no abdómen, onde sofreu uma operação
recentemente”, denuncia a mãe. Foi libertado a seguir, mas não conseguia sequer
manter-se de pé. A mãe levou-o para o hospital.
“É tanta
injustiça que já não sei mais o que fazer”, lamenta Maria Manuela.
Os responsáveis
Na opinião de Rui
Verde, analista do Maka Angola, "a responsabilidade destes actos
criminosos, violação de domicílio, tortura e homicídio não é só daqueles
polícias que os praticaram, mas também daqueles que têm um dever funcional de
garantir que eles não ocorrem: as chefias”.
Para o analista,
“estaremos perante autoria dos crimes por parte das autoridades policiais por
acção de subalternos e por omissão de dirigentes”.
“Porque este
relato não é o primeiro a surgir. Recentemente, têm abundado as informações
sobre maus-tratos e tortura nas instalações policiais, o que indicia que
estamos perante um comportamento crónico, permanente. Assim sendo, a
responsabilidade política, penal e disciplinar é também do ministro do
Interior, do comandante geral da Polícia Nacional e do director do SIC”,
assevera o analista jurídico. Trata-se do comissário Ângelo de Barros de Veiga
Tavares, ministro; do comissário-chefe Ambrósio de Lemos, comandante-geral; e
do comissário Eugénio Pedro Alexandre, director do SIC.
“Tão criminosos
são os que fazem como os que deixam fazer, ou eventualmente incentivam ou
‘fecham os olhos’ a este tipo de comportamentos”, remata Rui Verde.
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