28 julho 2016
Lisboa - As
antigas denúncias segundo as quais a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) estaria
a ser controlada pela Casa Militar da Presidência da República voltaram a
ganhar consistência por via de um recente descuido protagonizado por esta
instituição responsável pela organização de processos eleitorais em Angola.
Fonte: Club-k.net
O descuido foi
notado no seguimento do empossamento de dois novos comissários, indicados pela
CASA-CE, Marcia Marcelina Pascoal Lucinda e Miguel Francisco “Michel”. Após a
entrada dos dois, a CNE disponibilizou duas viaturas protocolares conforme
regra administrativa. Porém, foi notado que as duas viaturas traziam livretes
em nome da Casa Militar evidenciando ter sido a instituição dirigida pelo
general Manuel Helder Vieira Dias “Kopelipa”, quem encomendou os automóveis, no
lugar da própria CNE.
A constituição
angolana determina que a CNE, nos termos do artigo 107.o da Constituição da
República de Angola, é um órgão independente que organiza, executa, coordena e
conduz os processos eleitorais e que por esta razão é uma entidade
administrativa não integrada na administração directa e indirecta do Estado. A
mesma goza de independência orgânica e funcional e é uma entidade orçamental
própria, dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, nos
termos da lei. Sendo um órgão independente, e com autonomia financeira a
semelhança dos Tribunais e da Assembleia Nacional, as compras ou a encomenda de
material logístico da CNE, segundo pareceres competentes, não deve ser confiado
a Casa Militar do Presidente José Eduardo dos Santos.
Outras evidencias
da submissão da CNE a Casa Militar
Na vespers das
eleições de 2012, um dos partidos da oposição neste caso UNITA, denunciou que
dois oficiais militares da Casa Militar tinham sido colocados como consultores
da CNE o que evidenciava que este órgão eleitoral estava a ser conduzido pela
Presidência da República. Tratavam-se do Tenente-General Rogério José Saraiva e
o Coronel Anacleto Garcia Neto, ambos técnicos especializados em comunicações e
engenharia.
Em finais de
Junho de 2012, estes dois consultores da Casa Militar viajaram para Espanha,
numa delegação chefiada pelo então responsável da CNE, Edeltrudes Costa que
acertou com a espanhola INDRA a feitura dos boletins de voto e outros elementos
da logística eleitoral para do dia 31 de
Agosto de 2012.
A lei eleitoral
determina que a CNE deve ter um gabinete técnico eleitoral (centro de
escrutínio) composto por representantes dos partidos politicos com acento
parlamentar que tem a missão de receber os resultados das comissões províncias
e por sua vez divulgar publicamente. Nas eleições de 2012, o MPLA, rejeitou a
estruturação deste centro de escrutínio na CNE, conforme manda a lei. Por outro
lado criou um outro encabeçado pelo Tenente-general da Casa Militar, Rogério
José Saraiva. Estes recebiam os resultados de uma central conduzida por
técnicos chineses e russos contratados pela Presidência da Republica, e por sua
vez faziam chegar a porta-voz da CNE, Julia Ferreira. Por descuido o centro do
general Rogério José Saraiva divulgou actas com os resultados eleitorais com os
símbolos da República, contrariando as verdadeiras actas aprovadas pela CNE que
traziam apenas os símbolos desta instituição eleitoral.
A lei eleitoral
no seu artigo 30 determina que o acesso aos Centros de Escrutínio é reservado
aos membros das Comissões Eleitorais e demais elementos previstos na Lei
Orgânica Sobre as Eleições Gerais, bem como às entidades convidadas pela
Comissão Nacional Eleitoral. Conforme verificou-se nas eleições de 2012, nem
mesmo os comissários do MPLA, tiveram acesso a este centro de escrutínio, razão
pela qual a porta-voz Julia Ferreira, anunciava os resultados eleitorais de um
local diferente ao Centro de Escrutínio cordenado pelo Tenente-general da Casa
Militar, Rogério José Saraiva.
Neste altura, o
gabinete criado pela Casa Militar havia cometido uma falha no lançamento dos
resultados. Os mesmos orientaram a porta Voz da CNE, Julia Ferreira a anunciar
os resultados finais da votação no municipio do Cazenga, numa altura em que
aquele municípios ainda não havia concluído a contagem dos votos. Um delegado
de lista da Assembléia de voto do Cazenga, telefonou neste dia, a Radio
Despertar para denunciar que a CNE estava avançar resultados concluídos quanto
que na sua mesa ainda estavam a contar os votos.
e minutos depois
um membro da comissão municipal eleitoral indicado pela oposição Faustino
Mumbika, telefonou para a radio Despertar denunciando que a CNE havia divulgado
resultados do Cazenga quando na verdade, os votos daquela area ainda não
estavam ainda contabilizados. Desde então ficou com percepção que os resultados
dos votos das eleições de 2012, foram forjados pela Casa Militar razão pela
qual o Presidente Jose Eduardo dos Santos ordenou em Abril do ano passado a
bancada do MPLA, a aprovar uma lei que da-lhe poderes de involver-se no
processo eleitoral em violação a constituição.
O caso do Huambo:
Resultados avançados pela CNE diferentes aos contados nas assembleias de voto
Um um outro lado
lapso cometido pela Casa Militar evidenciou-se no planalto central. Os
resultados s provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), no
dia 2 de Setembro, eram diferentes dos resultados contabilizados pelos
delegados das assembleias de voto no terreno.
A CNE apresentou
como resultados, 53,45% para o MPLA e para UNITA 44,55%, enquanto que os votos
contados pelos fiscais no local atestavam 51% para o partido no poder e 47%
para o maior partido da oposição.
Até as 11horas da
manha de sábado (01/9), o município do Katchiungo já tinha o resultado final
dos votos de todas as assembleias. Na tarde do mesmo dia, a CNE apresentou
resultados provisórios de 101 das 110 mesas existentes daquela localidade. Os
resultados lidos pela porta-voz da CNE apontavam as seguintes percentagens:
RESULTADOS
PROVISÓRIOS DA CNE
MPLA --------
53,45%
UNITA ------
44,55%
FNLA --------
0,72%
CASA-CE --- 0,51%
PRS ----------
0,44%
ND -----------
0,10%
PAPOD ----- 0,10%
FUMA -------
0,07%
CPO ---------
0,02%
RESULTADOS
CONTADOS PELOS FISCAIS NO TERRENO ANTES DE IREM PARA LUANDA
MPLA
-------------- 51%
UNITA
------------ 47%
CASA-CE ---------
0,41%
PRS
---------------- 0,41%
FNLA
-------------- 0,22%
PAPOD -----------
0,34%
FUMA
------------- 0,08%
CPO
--------------- 0,01%
ND
----------------- 0,02%
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