O Despacho do Presidente de Angola adjudica uma grande
empreitada, avaliada em milhões de euros, a um consórcio do qual faz parte a
empresária angolana Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado José Eduardo
dos Santos.
O jornalista angolano Rafael Marques diz que é mais um caso
em que "Isabel quer, o pai decide": A adjudicação de uma empreitada
milionária, por despacho presidencial, a uma empresa de Isabel dos Santos.
Segundo a agência de notícias Lusa, um despacho do
Presidente José Eduardo dos Santos autorizou obras de mais de 1,2 mil milhões
de euros para reformular a marginal da Corimba, a sul da capital angolana. Um dos contratos (avaliado em 636
milhões de euros), para a reabilitação da marginal, foi atribuído às empresas
Landscape e China Road and Bridge Corporation Angola. O outro contrato (orçado
em 567 milhões de euros), para as dragagens, reclamação de terra e proteção da
costa, foi para um consórcio formado pela empresa holandesa Van Oord Dredging
and Marine Contrators e pela Urbeinvest Projetos Imobiliários, da empresária
Isabel dos Santos.
Em entrevista à DW África, o jornalista Rafael Marques
considera que houve "uma violação da Lei da Probidade Pública", que
impede titulares de cargos públicos de assinarem contratos em benefício de
familiares diretos. Fala ainda num "excesso insustentável" que pode
ser arriscado para a empresária angolana.
DW África: Houve um concurso público para a adjudicação
desta empreitada à empresa de Isabel dos Santos?
Rafael Marques (RM): Mesmo que tenha havido concurso
público, colocando essa hipótese, está aqui uma violação da Lei da Probidade e
da Contratação Pública que proíbe aos titulares de cargos públicos assinarem
contratos para benefício dos seus familiares diretos. E, neste caso, o contrato
é assinado pelo Presidente da República enquanto titular do executivo. Por
outro lado, o chefe da Contratação Pública, o indivíduo que observa os
documentos sobre contratos públicos, é um alto funcionário da Presidência da
República com o título de secretário de Estado para a Contratação Pública. Logo
já aqui há também um problema de deformação do que deve ser um cargo com uma
certa autonomia.
DW África: Qual é a experiência desta empresa de Isabel dos
Santos, a Urbeinvest ?
RM:
Nenhuma. São empresas criadas simplesmente para ugarem o Estado ponto final. Não
tem experiência nenhuma. Ninguém conhecia a Urbeinveste até surgirem esses
grandes contratos.
DW África: Dizia num dos seus artigos que "o que Isabel
quer, o pai decide". Então, pelo que diz, ste é mais um desses casos?
RM: É mais um desses casos, mas é um que também expõe a
própria Isabel dos Santos a ódios acumulados por parte de muitos setores da
sociedade angolana sobretudo dentro do próprio MPLA (partido no poder) porque é
um excesso insustentável. A Isabel mantém esses biliões de dólares, quer manter
o estatuto de bilionária e crescendo práticamente privatizando o país,
utilizando o país expandindo os seus negócios privados. Acha que está no
direito de ficar com tudo como se já estivessem a partilhar a herança entre os
filhos do Presidente. E o país é o que o Presidente deixa como herança aos seus
filhos. Mas mesmo o Presidente
está a colocar a própria Isabel em risco com esse tipo de abusos.
DW África: Qual é a extensão dos investimentos de Isabel dos
Santos em Luanda neste momento?
RM: Em todos os grandes contratos públicos a Isabel está
metida como sócia. Não vamos falar de negócios de Isabel dos Santos. Vamos
falar de contratos públicos que são entregues a Isabel dos Santos. Em Angola
estamos a falar das barragens, em que ela está envolvida com a empresa Efacec,
estamos a falar do plano metropolitano de Luanda... Os grandes projetos de Isabel
de grande rentabilidade são aqueles que saem do bolso do Estado, não são
aqueles dos bolsos pessoais. Estamos a falar de biliões de dólares.
DW África: Quais são os interesses de Isabel dos Santos na
capital angolana neste momento?
RM: Os interesses de Isabel na capital como em todos os
outros que tenham a ver com o Estado é encontrar formas fáceis de através dos
decretos presidenciais passarem a responsabilidade financeira de grandes
contratos para Isabel dos Santos para que seja a principal beneficiária e
também através dessa sua participação ganhar poder político para eventualmente
amanhã colocar-se na posição de substituta do pai. Por exemplo no caso de
Luanda todos aqueles que quiserem participar agora neste novo plano
metropolitano de Luanda têm que passar por Isabel dos Santos. Isabel passará
também a ter capital político, porque todos aqueles que dentro do MPLA
precisarem de fazer negócios na cidade terão de beijar a mão a Isabel dos
Santos.
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