O jornalista e
ativista angolano Rafael Marques, autor do livro 'Diamantes de Sangue: Tortura
e Corrupção em Angola', que lhe valeu uma condenação a seis peses de prisão com
pena suspensa pela justiça angolana
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Miguel A. Lopes / Lusa
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O pacote
legislativo foi aprovado no parlamento a 12 de agosto. Deputado da UNITA, maior
partido da oposição, descreveu-o como "um cerco aos jornalistas e ao
jornalismo"
A Human Rights
Foundation condenou nesta quarta-feira a aprovação na generalidade pelo
parlamento de Angola do pacote legislativo da comunicação social e exigiu que
seja tornado público e rejeitado na votação na especialidade.
O parlamento
angolano aprovou a 12 de agosto na generalidade o pacote legislativo da
comunicação social, com votos contra dos partidos da oposição, que a consideram
um bloqueio aos jornalistas e à liberdade de imprensa e expressão em Angola.
A Lei de
Imprensa, Lei sobre o Estatuto do Jornalista, Lei sobre o Exercício da
Atividade de Radiodifusão, Lei sobre o Exercício da Atividade de Televisão e a
Lei da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) compõem o
pacote legislativo da comunicação social angolana.
As novidades
deste pacote legislativo, conta o jornal Rede Angola, "passam pela criminalização
da atividade jornalística, o reconhecimento dos meios de comunicação online e a
criação da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA), que vai
passar a emitir carteiras profissionais." Outra das novidades é a
existência de um valor mínimo na criação de qualquer órgão de comunicação
social: 300 milhões de quanzas (cerca de 1,6 milhões de euros).
"Da Nigéria
a Angola, os regimes autoritários estão ocupados a fazer aprovar leis que
limitam a liberdade de expressão, incluindo na Internet", disse o
presidente da Human Rights Foundation, organização não-governamental, Thor
Halvorssen.
Atualmente,
Angola ocupa o 123.º lugar no ranking da liberdade de imprensa da organização
Repórteres sem Fronteiras.
O ministro da
Comunicação Social angolano, José Luís Matos, afirmou no início do mês que até
à votação final haverá possibilidade para as organizações sócio profissionais
da classe e outras entidades e pessoas singulares fazerem chegar novas
contribuições para o aprimoramento do pacote legislativo.
"Quero
sublinhar a esse propósito, fruto de sugestões que nos chegaram de algumas
entidades e pessoas singulares ligadas à classe jornalística e não só, há um
entendimento diferente sobre algumas matérias que o pacote aborda, que têm a
ver com o estatuto, a ética e a deontologia do jornalista, o órgão que
substitui o Conselho Nacional de Comunicação Social e o fomento do empresariado
no setor da comunicação social", referiu o ministro.
Durante os
debates, o deputado da UNITA, Raul Danda, disse que o novo pacote legislativo
da comunicação social é "um cerco aos jornalistas e ao jornalismo" e
parece ter a intenção de impedir que os profissionais façam o seu trabalho com
isenção e sem interferências, criando mecanismos de controlo antidemocrático
dos órgãos de comunicação social, "sujeitando-os a um seguidismo contrário
à ética política, à democracia efetiva".
Na sua declaração
de voto, o grupo parlamentar do maior partido da oposição angolana justificou o
seu voto contra pelo facto de o referido pacote "representar retrocesso e
violação dos direitos e liberdades consagrados nos artigos 40.º, 44.º e 49.º da
Constituição da República e por se tratar de uma proposta elaborada sem
concurso da classe jornalística".
Por sua vez, a
deputada do MPLA, Luísa Damião, disse que o diploma vai contribuir para uma
maior democratização da informação, para uso correto da informação, para
regular os eventuais perigos de um jornalismo irresponsável, primar pelo
respeito da ética e deontologia profissionais e contribuir de forma clara quem
é jornalista e quem tem direito à atribuição de uma carteira profissional.
Em declarações à
imprensa, no final da sessão, o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas
Angolanos, Teixeira Cândido, manifestou a sua satisfação pela abertura ao diálogo
e acolhimento das nossas preocupações expressa pelo ministro e a bancada
parlamentar do partido maioritário.
"Vamos
esperar que seja retificado ou melhorado o conteúdo que o diploma apresenta já
na especialidade, essa é a nossa convicção, porque há ainda um percurso até
serem aprovados os diplomas e vamos aproveitar este intervalo que existe para
junto do Ministério da Comunicação social, assim da bancada maioritária para
ver se conseguimos melhorar", frisou.
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