10 de Setembro de
2016
ANGOLA. “O soba
Ngana Mussanga, do MPLA, veio, com 20 jovens armados com paus. Deu-me chapadas
na cara, enquanto os jovens me agarravam. Atiraram-me ao chão, apertaram-me nas
mãos e nos pés, para não me soltar e o soba começou a espancar-me com uma moca
na cabeça”, revela Pedro Muiungulenu Zambicuari.
Este é o primeiro
incidente que vem a público sobre a violência contra membros da oposição
durante o processo de registo eleitoral. As próximas eleições estão previstas
para o próximo ano.
Os partidos da
oposição – UNITA, CASA-CE e PRS – suspenderam, ontem, a fiscalização do registo
eleitoral no Luremo, em protesto contra os actos de intimidação e violência
contra os seus membros.
O representante
da UNITA, Pedro Muiungulenu Zambicuari, narra o sucedido.
“Às 8h30, antes
de iniciar o registo, o soba Ngana Mussanga veio ter comigo. Perguntou-me quem
eu era e de onde vinha. Respondi-lhe que sou cidadão angolano”, explica.
“O soba disse-me,
então, que o MPLA não queria nenhuma oposição aqui [no Luremo]. Avisou-me:
‘arruma as tuas trouxas e vai-te embora’. Respondi-lhe que eu estava ali para
fiscalizar o registo e não para fazer política. Deu-me as costas e foi-se
embora”, continua.
Imediatamente, o
membro da UNITA informou a Brigada Móvel de Registo Eleitoral, alojada na
administração comunal, que o encaminhou à administradora comunal, Maria Tungo,
entretanto ocupada para o receber.
“O chefe da
secretaria da administração communal [Kubindama] disse-me que eu não tinha nada
que fiscalizar o registo mas, se quisesse, podia ir fiscalizar a direcção da
UNITA. E era melhor sair já do Luremo”, explica Zambicuari.
Acto contínuo,
por volta das 16h00, o mesmo Kubindama dirigiu-se à brigada móvel para dar o
ultimato a Pedro Zambicuari, diante dos seus colegas, que deveria abandonar
imediatamente o Luremo ou enfrentar as consequências.
Uma hora depois,
o soba dirigiu-se à residência, onde deveria pernoitar, e foi agredido pelo
próprio soba, como acima reportado.
“O soba não me
disse mais nada. Viu-me, agarrou-me e começou logo a bater-me”, conta.
Refere que, a
dado momento, conseguiu espernear até se soltar e pôs-se em fuga, tendo sido
perseguido à pedrada e com mocas.
Procurou refúgio
no comando local da Polícia Nacional. “Informei o caso ao segundo comandante
Joaquim e o soba também apareceu diante dessa autoridade. Disse-me diretamente
que estava ali para me matar”, diz.
“O comandante
pediu ao soba para se sentar e disse-lhe que não podia fazer confusão na
esquadra. Mas o soba continuou a gritar contra o comandante, a dizer que me
mataria de qualquer forma”, revela o representante da UNITA.
Membros do
Partido de Renovação Social (PRS) acorreram à unidade para socorrer o seu
colega da oposição e evacuaram-no para Cafunfo. Um outro oficial da Polícia
Nacional aconselhou, no momento, o comandante a entregar o militante da UNITA
aos cuidados do PRS. Segundo testemunho da vítima, o referido oficial disse ao
comandante “que a polícia não tinha meios para impedir que me matassem ali
mesmo caso continuasse no local.”
Ontem, os
partidos da oposição reuniram com a administradora do Cuango, Angélica Kaumba
Sassão, a pedido desta, para abordar o incidente e o processo de registo
eleitoral naquela localidade.
“A administradora
chamou-nos para dizer que a agressão contra o nosso colega era normal e que não
devíamos fazer barulho por causa disso”, refere Justino Pedro,
secretário-adjunto do PRS no Cuango, que esteve presente no encontro.
“Eu perguntei à
administradora Angélica: e se o homem da UNITA tivesse sido morto? Ela
respondeu que nós podemos fazer queixa onde quisermos e nada acontecerá. Foi a
resposta dela”, acrescenta Justino Pedro.
Por causa dessa
atitude, refere o interlocutor, os partidos da oposição acharam por bem
suspender a sua participação, por razões de segurança.
Maka Angola
tentou o contacto com a administradora municipal sem sucesso. Não foi possível
contactar o soba Ngana Mussanga ou a administração do Luremo por dificuldades
de comunicação.
Pedro Muiungulenu
Zambicuari queixa-se de fortes dores de cabeça e nas costas por causa da
agressão violenta de que foi alvo e recebeu um cocktail de quatro injecções
para aliviar as dores.
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