Raúl Danda, líder do grupo
parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA,
maior partido da oposição), disse hoje à Lusa que Portugal, na defesa da
democratização de Angola, não deve submeter-se aos interesses económicos
angolanos.
"Sinto que, de algum modo, a
dependência económico-financeira tem consequências um bocado prejudiciais. Acho
que Portugal tem de continuar a ser aquela 'nação valente' que nós ouvimos no
hino de Portugal e, para isso, tem de portar-se de forma um bocadinho
diferente", disse Raul Danda, após um encontro com a Associação Pro
Dignitate, em Lisboa.
A delegação parlamentar da UNITA
está em Portugal para contactos institucionais, tendo-se encontrado na
quarta-feira com os grupos parlamentares do CDS-PP e do PSD e com o secretário
de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Luís Campos Ferreira, a quem
também transmitiu as preocupações relacionadas com as relações económicas entre
os dois países.
"Nós temos grandes desafios
em relação à democratização do país e julgamos que aquilo que alguns setores de
Portugal fazem - assim como a comunidade internacional -, ao elogiarem os
democratas em Angola que não são democratas complica muito", afirmou.
"Temos tido uma preocupação
muito grande porque muitas vezes os interesses económicos funcionam e falam
mais alto do que as relações humanas e isso é grave. Nós gostaríamos de ver
Portugal mais interventivo em relação àquilo que se passa em Angola, por razões
óbvias", sublinhou o deputado da UNITA.
"Passamos esta mensagem ao
secretário de Estado e dissemos isso mesmo ao CDS e ao PSD que sustentam o
governo (português) e vamos dizer isso em todos os fóruns onde estivermos
porque não se ajuda alguém quando não se tem coragem de se apontar os pontos
negativos que tem", disse Danda.
"Eu julgo que, mesmo havendo
esta condicionante económica, as pessoas podem andar na vertical. As pessoas
não devem andar na horizontal. Há um dito português: 'antes pobre e honrado do
que outra coisa qualquer'. Pode haver necessidades e é verdade que hoje, do
ponto de vista económico e financeiro, Portugal precisa de Angola mas Portugal
não precisa do governo de Angola, nem do regime de Angola. Portugal não precisa
do MPLA que está no poder. Portugal precisa de Angola e dos angolanos e Angola
e os angolanos são muito mais do que o presidente José Eduardo dos Santos e
muito mais do que o MPLA", afirmou.
Além das questões económicas e
financeiras, a UNITA vem também a Portugal denuncar preocupações relacionadas
com os direitos humanos em Angola que afirma serem constantemente violados.
"Temos uma Constituição rica
naquilo que tem a ver com os direitos dos cidadãos mas a garantia do fruto
desses direitos é bastante exígua", disse Raul Danda.
A UNITA considera igualmente
"imperiosa" a marcação de eleições autárquicas em Angola, porque,
afirmou Raul Danda, é com as autarquias que se concretiza a democracia.
O parlamentar angolano recordou
que a UNITA apresentou um projeto de lei sobre o poder local que considera um
"imperativo constitucional" e que desde 2010 tem-se verificado uma
violação da Constituição por omissão.
"Os nossos colegas do
partido maioritário nem quiseram que o documento fosse discutido na
generalidade porque quem controla o poder todo há 34 anos e não dá mostras de
querer deixar de o fazer não quer partilhar esse mesmo poder. Havendo
autarquias no país é impossível que o MPLA ganhe todas as autarquias. E é
sobretudo este o receio", disse Raul Danda.
O líder do grupo parlamentar da
UNITA disse ainda que o Presidente José Eduardo dos Santos não devia procurar
resolver o problema do enclave de Cabinda com as "dezenas de milhares de
tropas que tem" na província, com "as armas, com as prisões
arbitrárias e com as intimidações" e que devia tentar solucionar a questão
através do diálogo.
A delegação parlamentar da UNITA
integra Alcides Sakala, secretário das Relações Exteriores da UNITA, Clarisse
Kaputo, Rafael Massanga Savimbi e Hermenegildo Soares.
Após os contactos em Portugal, a
delegação parlamentar da UNITA desloca-se a Espanha onde tem encontros marcados
com grupos parlamentares do Parlamento espanhol, em Madrid.
Diário Digital com Lusa
06/06/2014
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