O presidente da
UNITA, Isaías Samakuva, disse hoje que o Orçamento do Estado "é algo de
fachada, que não se cumpre", acrescentando também que ninguém sabe
"de onde surgem enormes somas de dinheiro a passear na Europa".
Lusa
16:46 - 30 de
Outubro de 2014 | Por Lusa
Questionado pelos
jornalistas no final de uma intervenção em Lisboa, no 'International Club de
Portugal', o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA) ressalvou que ainda não tinha lido o documento que rege as despesas e
receitas de Angola em 2015, mas sublinhou que, pela experiência, podia dizer
que "o Orçamento do Estado, em Angola, é algo de fachada, não se cumpre
não se respeita, não se sabe de onde vêm enormes somas de dinheiro apanhadas em
caixas de sapatos aqui na Europa, ou então para fazer muita festa em
Angola".
O Orçamento,
sublinhou, "é algo só para formalidades", disse, lamentando que o
Governo não invista mais na diversificação da economia, apostando no setor da
agricultura, e continuando dependente da evolução da produção petrolífera para
equilibrar o orçamento.
"O facto de
termos todo o Orçamento baseado no petróleo traz consequências enormes,
pensamos sempre que os preços do petróleo estão altos e com a produção enorme
que temos não há problemas, mas depois vemos, assim que descem, o Presidente da
República, no Estado da Nação, a atirar todas as culpas do que não se faz para
a diminuição da produção e para a baixa dos preços", disse Isaías
Samakuva.
Por isso, a UNITA
"tem insistido para uma real diversificação da economia" e tem
afirmado que "não podemos basear toda a nossa economia no petróleo, até
seria melhor basearmos a nossa produção na agricultura, um setor vital e
estratégico" para Angola, disse.
Antes, no
discurso, já tinha deixado duas mensagens, uma para os investidores, e outra
para os estrategas e governantes: na primeira, afirmou que "Angola é um
país maravilhoso onde se pode ganhar muito dinheiro em muito pouco tempo, mas
esta facilidade encobre uma séria doença cancerosa que preocupa os que olham
para o seu futuro".
Num discurso
repleto de críticas ao atual Governo e Presidente da República, Isaías Samakuva
considerou estar-se "num momento crítico na história de uma nação, um
daqueles momentos que redefine o seu futuro", e defendeu que "os
angolanos querem mudança, mas o regime continua, e a intensidade deste desejo
cresceu de tal forma que um dificilmente sobreviverá ao outro".
Aproveitando a
passagem por Portugal, o responsável político deixou bem vincadas as diferenças
entre os dois regimes políticos: "alguém imagina um mandato de 40 anos sem
que o Presidente se tenha sujeitado a um único debate na televisão? E o que
diriam se os deputados só pudessem fiscalizar o Governo se isso fosse
autorizado pelo próprio Presidente da República?".
O responsável
lembrou que "Angola é o único país da CPLP sem autarquias" e disse
que "os direitos e liberdades fundamentais não são respeitados", para
concluir que "Angola precisa de outra independência", porque "o
atual governo chegou ao seu fim e já não consegue reunir as condições políticas
de governabilidade e legitimidade para se manter em plenitude de funções".
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