19 maio 2015
Alemanha - Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos reafirma que é do
interesse de Angola que haja "transparência" na investigação sobre
alegado massacre no Huambo. E não vai pedir desculpas, como Luanda exigiu.
Fonte: DW
ACNUDH não pede
desculpas
Na semana passada, o Escritório do Alto Comissariado da ONU
para os Direitos Humanos (ACNUDH) em Genebra, na Suíça, pediu que fosse nomeada
uma comissão independente para investigar os confrontos na Serra Sumé, no
Huambo, entre a polícia angolana e fiéis da seita "A Luz do Mundo",
liderada por Julino Kalupeteka.
Segundo o
organismo da ONU, há "factos por esclarecer" e "grandes
diferenças no número de vítimas". As autoridades falam em nove
polícias mortos e 13 vítimas entre os fiéis. Mas outros relatórios referem uma
centena de mortos e a oposição angolana contabilizou mais de mil mortos.
O pedido de inquérito caiu mal ao Governo angolano. Na
sexta-feira passada (15.05), Luanda repudiou as declarações da ONU. Diz que
"não são sustentadas por quaisquer provas" e que foram
"amparadas por falsas declarações prestadas por elementos tendenciosos e
absolutamente irresponsáveis, com a intenção de difamar" o país.
A reacção de Angola foi inesperada, disse à DW África o
porta-voz do Alto Comissariado, Rupert Colville. "Fiquei um pouco
surpreendido porque há sérias alegações de que algo aconteceu. Segundo a versão das autoridades,
morreram nove polícias e 13 civis. E isso já é suficiente para ordenar uma
investigação".
O porta-voz
do ACNUDH acredita que "é do interesse do Governo que seja feita uma
investigação independente e transparente, porque se essa versão dos eventos for
verdadeira, isso só iria ajudá-los."
ACNUDH não pede desculpas
O ACNUDH esclarece que se limitou a fazer um "pedido
básico" e que reage desta forma sempre que há mortes de civis.
Sublinha também que não está a "fomentar
especulações", como acusa o Governo de Luanda. Por isso, não haverá nenhum
pedido de oficial de desculpas a Angola.
Caso Kalupeteka: ONU insiste em investigação "transparente"
"Não temos nada que pedir desculpas. Só pedimos que a
situação fosse esclarecida, o que é do interesse de todos", explica Rupert
Colville. "Há muitos relatórios diferentes sobre o que aconteceu e não
podem ser todos verdadeiros. Só precisamos de mais clareza sobre o que
aconteceu."
É "crucial" que a investigação que foi iniciada
pelo Governo angolano seja independente, sublinha ainda o porta-voz do ACNUDH.
"Quem
não deve não teme"
Já a União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA) sugere que o Executivo "abra as portas do Huambo à ONU" para
que se possa averiguar o que aconteceu. A ideia é defendida por Raúl Danda,
líder da bancada parlamentar do maior partido da oposição angolana, que se
encontra atualmente nos Estados Unidos da América, num "périplo diplomático"
para dar a conhecer a "real situação angolana".
"Quem não deve não teme", afirma Raúl Danda,
lembrando que o grupo parlamentar da UNITA esteve no Huambo e que "o
Governo angolano simplesmente impediu que os deputados se deslocassem à área
onde aconteceu esse genocídio". Por isso, defende que o Executivo,
"em vez de estar a acusar toda a gente, devia abrir espaço para um
inquérito imparcial, e até internacional, para se poder apurar a verdade."
O Governo angolano afirma que é "difícil acreditar que
tenham sido mortas e enterradas mais de mil pessoas durante uma noite, sem
deixar vestígios". Salienta que o líder da seita está detido a aguardar
julgamento e que o caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da
República.
Raúl Danda insiste que o que se passou no Huambo foi
"um genocídio". "Não é possível que o Governo angolano esconda
as mortes", que "ultrapassarão as mil", sublinha o dirigente da
UNITA. "As pessoas desapareceram. Há familiares de pessoas que estão a fazer
relatos do que aconteceu e há pessoas que escaparam do monte e que dizem que,
de facto, morreu muita gente. É difícil precisar o número, mas com o tempo
vai-se precisando", conclui.
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