Eduardo dos Santos prepara anúncio de amnistia dos jovens
acusados de tentativa de golpe de Estado. Chegará para acalmar o ambiente
político muito tenso?
De regresso antecipado por causa da contestação política, o
Presidente Eduardo dos Santos prepara o ás de trunfo: decretar, dentro de três
meses, pelo 40º aniversário da independência, uma amnistia geral.
Os 15 jovens detidos em várias cadeias de Luanda, Viana e
Calomboloca, acusados de envolvimento num alegado golpe de Estado, poderão ter
perdão presidencial caso sejam julgados antes de 11 de Novembro. Eduardo dos
Santos, espera, assim dissipar a pressão. Na esteira da amnistia, estará o
reconhecimento, por círculos moderados do MPLA, de que a justiça angolana terá
dado "um tiro no pé", com esta prisão de "filhos do
regime".
Familiares prometem hoje (sábado), na Praça da
Independência, nova manifestação. As autoridades deram o dito por não dito e
proibiram-na. "Estão perdidos!" - disse ao Expresso o jornalista
Graça Campos. Naquela praça, dentro de uma semana, intelectuais e representantes
da sociedade civil vão declamar poemas revolucionários, em protesto contra a
degradação das liberdades. "Se quiserem prendam-nos" - disse o
jornalista.
Uma parte do país quer falar mas outra parece não querer
ouvir. Uma manda mas começa haver outra que não quer ser mandada, num braço de
ferro de contornos perigosos. Tão perigosos que o ministro da Relações
Esteriores, George Chocoky, comparou a acção dos jovens à da ETA...
"Tolice! Estou certo que o Presidente vai serenar os ânimos nas hostes descontroladas
do regime" - disse ao Expresso o sociólogo Fernando Diogo.
Na Assembleia da República, a recusa do MPLA da transmissão
em directo das sessões, está a incendiar os debates. Segundo alguns analistas,
Eduardo dos Santos não parece ter outra estratégia senão apostar no
realinhamento de um barco à deriva. Enquanto esperam por novos sinais do tempo,
os cidadãos começam a perder o medo. Mas não os políticos e governantes, pelo
menos das escutas telefónicas. Alguns tentam, a qualquer custo, pôr dinheiro no
estrangeiro para garantir a sobrevivência. Angola, panela de pressão? "Se
não houver cuidado, a qualquer momento, essa panela pode explodir. Só não vê
nem não quer..." - diz Jacques dos Santos, escritor e antigo deputado do
MPLA.
Gustavo Costa
Correspondente do Expresso em Luanda
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