Maurílio Luiele
Médico
A UNITA
apresta-se a realizar em Dezembro próximo o seu XII Congresso, o quarto desde
que teve fim o conflito armado em Angola.
Saída dos
escombros do fim da guerra, a UNITA teve que enfrentar a duras penas o desafio
da sua conversão de movimento político- militar em partido político “de jure” e
“de facto”, despir-se do carácter de Estado que o enformava e participar em
plenitude do jogo político, tudo isso numa arena política completamente
revestida de armadilhas.
Um simples olhar por este sinuoso percurso, mesmo a vista
desarmada, conduz inequivocamente à conclusão de que o Partido tem passado com
distinção por este “teste de estresse”. Contornando obstáculo após obstáculo,
removendo pedra sobre pedra, posiciona-se hoje como a força política efectivamente
capaz de se constituir em alternativa à força política hegemónica hoje em
Angola, o MPLA, e por isso em condições de promover a ansiada e desejada
alternância da qual depende a remoção das inúmeras teias que aprisionam hoje o
Estado Democrático e de Direito. O presságio do fim da UNITA não só não se
concretizou, como, pelo contrário, a revitalização da UNITA tem sido revelada
todos os dias apesar dos colossais obstáculos colocados no seu percurso, o que
tem deixado em desespero os profetas do apocalipse.
O XII Congresso é assim uma oportunidade de ouro para fazer
um balanço sereno, pensado e reflectido dessa experiência, analisar ganhos e
perdas e desenhar a melhor estrutura do partido para os desafios vindouros. É
também uma instância apropriada para a definição da melhor estratégia para as
disputas eleitorais que se aproximam
levando sempre em consideração que num contexto como o nosso, qualquer
estratégia eleitoral só faz sentido se associar potentes ferramentas e
mecanismos de pressão por eleições verdadeiramente livres, justas e
transparentes em Angola.
A questão da liderança volta a ser discutida, como sempre,
através de um processo eleitoral que se pretende isento e irrepreensível.
A eleição do Presidente tem sido feita desde o IX Congresso,
em 2003, através de um processo aberto e plural (múltiplas candidaturas). O que
está verdadeiramente em causa é a escolha da figura que melhor corporiza o
ideal que a UNITA defende, que reúne capacidades de liderança inquestionáveis,
conciliando pela capacidade de ouvir e através do diálogo franco as diferentes
sensibilidades que compõem o Partido.
Tendo trocado ideias com diferentes sectores do Partido e
externos a ele, sou de opinião que o ciclo político virtuoso de Isaías Samakuva
ainda não se encerrou, significando ser esta a figura melhor talhada para
conduzir o Partido para os desafios imediatos entre os quais se incluem as
eleições gerais previstas para 2017. Tendo conduzido todo o processo de reconstrução e conversão da UNITA em
partido político civil de facto, tem, com o seu carácter eminentemente conciliador,
galvanizado os militantes para a defesa da causa da UNITA. Tem enfatizado a
necessidade de se olhar para a UNITA além das suas fronteiras partidárias de
modo a que a UNITA possa efectivamente representar o estuário de todas as
forças vivas da sociedade rumo a mudança.
As suas múltiplas digressões pelo interior do país têm
revelado que ele é, no momento, o principal agente mobilizador da UNITA,
demonstrando profunda empatia com extensos extractos populares por compreender
as angústias e os anseios mais profundos do povo.
Diplomata por vocação, tem se batido com denodo para
restituir a imagem da UNITA no contexto internacional havendo hoje uma maior
permeabilidade á compreensão das razões pelas quais a UNITA afincadamente se bate
e que continuam absolutamente válidas.
Uma vez que os estatutos da UNITA não impõem limite no
número de mandatos, o que é comum em muitos partidos democratas mundo afora,
uma candidatura de Samakuva a sua própria sucessão no XII Congresso seria não
só viável como até desejável. Isso não significa, de modo algum, impedir que
outras candidaturas se afirmem. A UNITA tem de resto muitos militantes capazes
de a liderar e as candidaturas múltiplas apenas fortalecem e legitimam ainda
mais o eventual vencedor para o exercício do mandato; considero apenas que
pelas razões acima evocadas, os ventos estão mais favoráveis para uma potencial
candidatura de Isaías Samakuva. Como é evidente só o Congresso é soberano e com
legitimidade para atestar ou não esta minha asserção.
O
Congresso, entretanto, não se esgota na eleição do Presidente. É uma
oportunidade singular para se discutir e aflorar aspectos vários da vida
interna do Partido e do país em geral, redesenhar caminhos, validar o que deu
certo e refutar o que deu errado até aqui, perspectivar uma abertura maior do
Partido à sociedade e deve, portanto, ser organizado de modo a propiciar o mais
amplo debate sobre estas questões.
Só assim se poderá fazer da UNITA uma verdadeira plataforma
capaz concretizar o sonho da MUDANÇA que é condição sine qua non para libertar
o país das garras do autoritarismo e repor sobre os carris o processo
democratic em Angola, resgatando os valores do Estado Democrático e de Direito
ultimamente tão vilipendiados.
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