E aqui chegados, não
há como não concluir: este ano será provavelmente o mais quente desde que a
guerra terminou. E aquele que o MPLA terá mesmo que «se pôr a pau», sob pena de
ser duramente castigado. Mais: aquele em que a Oposição tem as maiores possibilidades
de se aliar à Sociedade Civil e pressionar o MPLA até às últimas consequências.
E isto tudo pelo que ela menos esperavam: a crise causada pela baixa dos preços
do petróleo.
As medidas impopulares, as dificuldades acrescidas em
famílias que «têm muito pouco, quase nada», parafraseando o próprio PR, e o
desemprego, que certamente subirá em espiral, vulnerabilizam o MPLA como nada
antes o fez. Por uma razão muito simples: já não lhe basta a maioria no
Parlamento; tem também que assegurar o apoio das «massas populares», algo
difícil para a sua nova posição de «mensageiro da desgraça».
Do outro lado da barricada, teremos uma Oposição que
poderá dizer a qualquer momento: «se vocês não negoceiam connosco, traremos o
povo às ruas». Esse exercício da Oposição começará já nos próximos dias, com a
revisão do nado-morto que é o OGE de 2015. Se o executivo não acomodar as
exigências da Oposição no aumento das despesas na Educação e na Saúde, e em
maior investimento nos sectores de diversificação da economia, como a
Agricultura, as Pescas e Indústria, Energia e Águas, assim como uma drástica
redução nas despesas alocadas à Defesa e Segurança as suas queixas habituais – vão ensaiar este
passo, nem que seja para ver o que dá. Isso, se as suas próprias quezílias
internas não os distraírem.
Por outro lado, a fiscalização da acção do executivo
deixará de ser um conceito mais ou menos abstracto para o cidadão: no corte dos
subsídios, exigirão em troca o corte nas mordomias dos dignitários e gestores
públicos. Nos carros comprados pelo Estado, nos trabalhadores postos à sua disposição,
na gasolina para os seus carros, na manutenção das suas vivendas… e por aí
adiante. E na ostentação de riquezas a que muitos deles são useiros e
vezeiros. Daí que, as queixas da Oposição de que o executivo não pode ser
fiscalizados pelos eleitos do Povo já não colherão a indiferença que mereceram
até agora. Mais uma vez, as ruas poderão ser serão uma alternativa para a luta
política, caso ela se revele inviável no Parlamento.
Resumindo e concluindo: abriu-se, inesperadamente, para a
Oposição e a Sociedade Civil, uma ampla oportunidade de negociação política
para que possam efectivamente fazer passar aspectos da sua agenda, não
obstante a maioria do MPLA no Parlamento.
Mas, o mais importante nem sequer é isso. É que, depois
desta crise que se adivinha mais ou menos longa, o espectro político, os seus
actores e modus operandis, assim como a participação dos cidadãos não mais será
o mesmo. O espaço político poderá entrar num processo mais acelerado de
democratização, isso «através» da crise causada pela baixa do preço do
petróleo. É engraçado, no mínimo.
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