Em risco de ser julgado sumariamente por faltar ao
julgamento, pergunta por que os filhos têm de sofrer.
Redacção
VOA
O activista
M´banza Hamza pode vir a ser julgado sumariamente por não ter comparecido ao
tribunal na passada segunda-feira, como admite o próprio réu no processo dos
17.
Ele
justifica a ausência com a necessidade de ir ao banco de modo a contornar a
penúria que a família enfrenta.
Numa carta
com data de hoje, 10 de Fevereiro, a que a VOA teve acesso, Hamza escreve ter
informado aos advogados as razões que o levaram a não comparecer em tribunal e
que são “igualmente de conhecimento do Ministério Público (MP) e do Tribunal de
Luanda”.
“Assoberba-me entretanto, o facto de o MP as considerar como
desrespeito ao tribunal, a menos que se ache que no nosso país alguns são seres
humanos e outros mero gado, ou que até crianças não sejam motivo de preocupação
de um Estado”, explica o activista que justifica a sua ausência com a
necessidade de ir ao banco.
“Até ao momento da escritura desta nota (11h00 de ontem, 9
de Fevereiro), o meu reeducador ainda não chegou, para contar a epopeia que
tenho passado, eu e a minha família, desde a minha detenção a 20 de junho de
2015”, continua M´banza Hamza.
Na longa carta, o activista
narra as dificuldades para ter acesso ao seu Bilhete de Identidade e ao
multi-caixa, facto que tem aumentado as dificuldades financeiras da sua família.
“Estamos em situação de penúria extrema com a família
(esposa, dois filhos menores de cino anos, além de dois irmãos). Nos últimos
dias temos vivido de praticamente uma refeição por dia e recorrentemente arroz
branco… Mas branco no
verdadeiro sentido e oferecido (dão-nos meio quilo por dia). Não me dão os
multi-caixas”, denuncia Hamza que também não tem podido ir ao banco.
“Por que
acham que os menores devem pagar pelo meu suposto crime que até agora não foi
provado? Que justiça deve ser essa? A minha atitude de me negar a
comparecer perante o tribunal até que me permitam ir ao banco é tida como
desrespeito ao tribunal; que direi desta atitude maquiavélica de me ver, eu e
os meus a penar sem necessidade, uma vez que tenho dinheiro no banco? Estaremos
com isso a proteger e defender os direitos da criança?”, questiona Hamza para
concluir: “A única coisa que sei, é que agora que sabem que não têm saída com o
processo querem inventar desculpas”.