Maio 2016
Os peritos de
análise económica da Economist Intelligence Unit (EIU) consideraram hoje que o
atraso nos pagamentos dos salários dos funcionários públicos em Angola
constitui um “claro risco” de agitação social se os atrasos se tornarem norma e
não excepção.
“Os atrasos nos
pagamentos dos salários não são inéditos em Angola, mas há um claro risco de
agitação social se a incapacidade de pagar os salários a tempo se tornar um
tema regular”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista
britânica The Economist.
Na análise
enviada aos investidores, os analistas da EIU lembram que já em Fevereiro o
Ministério das Finanças reconheceu que apenas 73% dos salários foram pagos a
tempo.
“A
hiper-sensibilidade a quaisquer potenciais ameaças à estabilidade ou à sua
hegemonia deve levar o MPLA, através dos serviços de segurança, a aumentar a
repressão e as detenções preventivas de activistas e a imposição de pesadas
sentenças em críticos mediáticos – como se viu na detenção de 17 jovens
activistas em Março”, acrescentam os analistas.
Na nota de
análise, que considera que “existe o perigo de aumento dos protestos devido às
continuadas dificuldades orçamentais no contexto do petróleo barato”, a EIU diz
que o aumento da repressão sobre a contestação social “pode ter um efeito
contrário, já que a crescente repressão sobre vozes dissidentes pode agir como
um catalisador para mais instabilidade sustentada”.
Enfrentando uma
crise orçamental motivada pela descida dos preços do petróleo e consequente
quebras das receitas fiscais, que levou à desvalorização do kwanza e à
imposição de um conjunto de políticas de austeridade, Angola deverá aprofundar
a diversificação das fontes de financiamento.
Para além de ter
recorrido ao Fundo Monetário Internacional, o país “vai continuar a procurar
consolidar as suas relações com os parceiros estratégicos”, que são os EUA,
Portugal e o Brasil, escreve a EIU, considerando que, ainda assim, Angola “deve
continuar a dar prioridade ao pagamento da dívida à China para garantir a
continuação do crédito”.
A importância
desta relação é evidenciada pelo anúncio, em Fevereiro, de que cerca de 5,3 mil
milhões de dólares vão ser usados para financiar 155 projectos de investimento
público no país”, lembram os analistas da EIU.
Sobre o Programa
de Financiamento Ampliado pedido ao FMI, os peritos da EIU dizem que o
reequilíbrio da economia será o objectivo geral e deverá ter “um forte foco nas
reformas estruturais”.
As prioridades
iniciais do Programa, antecipa a EIU, serão “a restauração dos desequilíbrios
macroeconómicos, a construção de reservas financeiras, a redução do défice
orçamental não petrolífero e a redução da diferença entre a taxa de câmbio
oficial e a paralela”.
A EIU prevê que a
economia cresça 1,1%, o valor mais baixo de todas as instituições e organismos
internacionais, incluindo a do Governo, que antevê um crescimento de 3,3%.
Em Janeiro de
2016, a EIU considerou que a retirada dos subsídios aos combustíveis em Angola
podia levar igualmente à agitação social, lembrando que o aumento dos preços
vai ser mais penoso para a população mais desfavorecida.
“A retirada dos
subsídios aos combustíveis, realizada num contexto de deterioração das
condições económicas, aumento da inflação e desemprego mais alto, pode levar à
agitação social”, escreveu a unidade de análise económica da revista britânica
The Economist.
Segundo os
ajustamentos que entraram em vigor no início deste ano, para supostamente
realocar o dinheiro para as despesas sociais e para combater as desigualdades,
para além de desencorajar o tráfico de combustíveis na zona da fronteira,
segundo o Ministério das Finanças, “o preço de um litro de gasolina subiu
39,1%, para 1,18 dólares, e o gasóleo aumentou 80%”, diz a EIU.
Usando dados do
Fundo Monetário Internacional, a EIU conclui que, como “80% do combustível
refinado é consumido pelos 40% mais ricos da população, e apenas 7% pelos 40%
mais pobres, o aumento súbito vai sem dúvida penalizar mais aqueles que têm o
rendimento mais baixo”.
Para além do
aumento, a análise faz aumentar as acusações de que o “Governo está a fazer os
cidadãos normais pagar mais por um produto que, por causa da continuada quebra
no preço do petróleo, é muito mais barato hoje que há um ano”.
Para além do
gasóleo e da gasolina, a EIU nota ainda que a agitação social pode também
surgir devido à subida dos preços no gás e dos bens essenciais que as classes
mais desfavorecidas utilizam para sobreviver.
“O preço do
querosene também subiu 55,6%, e o gás de petróleo liquefeito passou de 55 para
100 kwanzas, um aumento de 81,8%, o que eleva um preço de uma garrafa de 12
quilos de gás doméstico de 550 para 1200 kwanzas, uma subida que será mais
fortemente sentida pelos agregados familiares mais pobres que não têm ligações
de gás”, dizia a EIU.
Ao que tudo
indica, o Titular do Poder Executivo (já) não sabe a quantas anda e o que fazer
da economia do país. Vai daí tenta descobrir a pólvora com a criação de
conselhos consultivos. Como é sempre o povo a pagar a roubalheira, nada melhor
que, aliada ao abandono das populações no Sul do país, que vive uma seca
dramática, principalmente, no Kunene, José Eduardo dos Santos tenha decidido,
por exemplo, aumentar o preço dos combustíveis, para o povo, mas manter a
subvenção aos membros do regime.
Recorde-se ainda
que a investigadora Rebecca Engebretsen, da Universidade de Oxford, considera
que se a classe média em Angola continuar a perder poder de compra e que isso
pode desencadear perturbações sociais e políticas como aconteceu em vários
países na Primavera Árabe.
“Um decréscimo no
poder de compra do grupo que detém o poder em Luanda pode desencadear
perturbações sociais e políticas, como aconteceu noutros países durante a
Primavera Árabe”, escreveu a investigadora Rebecca Engebretsen numa análise
publicada na AllAfrica Global Media.
Para esta
doutoranda em Oxford, o Governo angolano (do MPLA, no poder desde 1975), assim
com a classe dirigente, “no ambiente de preços baixos, enfrenta um dilema
delicado”, que consiste em apostar na diversificação económica a sério, mas
isso implica que a classe média e a elite dirigente perca os benefícios da
oligarquia que foi criando.
“Por um lado, os
decisores políticos estão cientes que defender o valor da moeda é cada vez mais
oneroso, e a sua capacidade para o fazerem está a diminuir porque as reservas
externas continuam a ser usadas”, escreve Rebecca Engebretsen, acrescentando
que, “ao mesmo tempo, estão também cientes que a desvalorização pode ser boa
para promover outras partes da economia que há muito sofrem de falta de
competitividade”.
Aumentar a
atractividade dos sectores não petrolíferos “é crucial se Angola quiser acabar
com os ciclos de crescimento-empobrecimento” que surgem da exposição excessiva
à variação dos preços do petróleo.
Aumentar a
diversificação económica tem, no entanto, desvantagens: “Por outro lado,
aumentar a competição pode colocar em perigo os interesses da classe dirigente
que pode poder as suas posições oligárquicas, até porque se as importações se
tornarem mais caras, a classe média cada vez maior de Angola pode ter dificuldade
de acesso aos bens internacionais que se habituou a ter, e os decisores
políticos em Luanda está bem cientes que uma diminuição no poder de compra do
grupo que detém o poder pode desencadear perturbações sociais e políticas, como
aconteceu noutros países durante a Primavera Árabe”.
Para já, as
grandes reservas internacionais têm permitido a ‘quadratura do círculo’,
estando a ser usadas “pelo Governo para defender o valor do kwanza e apoiar as
necessidades de importação em vez de qualquer transformação real da economia”.
Só que, conclui
Rebecca Engebretsen, “se os preços do petróleo continuarem baixos, é
questionável quanto tempo este modelo pode realisticamente ser mantido”.
Na análise, a
investigadora lembra que entre 2002 e 2014 Angola recebeu 468 mil milhões de
dólares em receitas do petróleo, que vale 95% das exportações e mais de 75% das
receitas fiscais.
A queda do preço
do petróleo fez descer as receitas fiscais em mais de 50% face ao ano passado e
cortou todas as previsões de crescimento da economia para 2016, que não deve
passar dos 4%.
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