Angola é uma
República, pertence a todos os que nasceram neste espaço geográfico que vai de
Cabinda ao Cunene e do Mar ao Luau, numa extensão 1.247. 000 Km2.
Se durante os 16
anos que se seguiram à proclamação da independência e por imposição e vontade hegemónica
de alguma força política, Angola era uma república popular, onde a exclusão era
a tónica, em que a alguns também filhos desta terra era negado “um palmo” de
terra, a partir de 1991, com a assinatura dos acordos de Bicesse e a
consequente aprovação da nova Lei Constitucional, a realidade passou a ser
outra, pelo menos no plano teórico. Ou seja, o ordenamento jurídico passou a
ser diferente. O MPLA teve de ser obrigado a aceitar a existência de outros
partidos políticos e outras correntes políticas.
Nos termos do
novo ordenamento jurídico, Angola República - coisa pública – é na verdade uma
estrutura política de estado em que estão presentes as três condições
fundamentais que a caracterizam como tal, tais como um número razoável de
pessoas, uma comunidade de interesses e de fins e por último um consenso de
direito.
As pessoas
nascidas e viventes na República de Angola não são todas do MPLA e nem o MPLA
deve ter a veleidade de pensar que representa toda a gente. Umas serão da
UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e haverá aquelas que nem sequer são de algum partido.
Da mesma maneira que há católicos, evangélicos, adventistas, kimbanguistas e
haverá aqueles que não professam qualquer religião. Quando mais não seja, o
nosso estado é laico.
Durante vários
anos, o MPLA instrumentalizou os seus membros a pensarem que somente eles
tinham direitos de pertencerem ao Partido e de fazer o que quiserem e da forma
como o pretenderem. Criara para o efeito, organizações que bisbilhotavam a vida
dos cidadãos e davam corpo a ideia da exclusão de outros cidadãos. As chamadas
ODP, BPV, BINA, etc., de triste memória.
Nas cidades e
aldeias era proibido identificar-se como membro da UNITA que se encontrava a
resistir nas matas. Muitos cidadãos angolanos foram fuzilados nos chamados
campos da revolução, acusados de colaboradores ou bombistas da UNITA, em
sentenças ditadas pelos tribunais revolucionários. Há mesmo uma longa lista de
compatriotas sacrificados pelo regime do MPLA.
O caso mais
recente e mediático ocorreu em 1999 com os cincos deputados, que felizmente não
terminou em mortes, mas constituiu um autêntico Calvário para aqueles eleitos
do povo, acusados de possuírem meios de comunicação com o Dr. Jonas Savimbi. O
mais velho Manuel Savihemba e outros que o digam. Lembrar que nessa altura já
Angola se dizia estado democrático de direito.
Apesar de os
acordos de Bicesse de 1991 terem inaugurado uma nova era no plano jurídico, as
mentes de muitos dos nossos irmãos do MPLA continuam presas no passado
conflituoso. Só assim se justifica que volvidos 25 anos desde que Angola deixou
de ser república popular e de orientação monolítica ainda continuemos a
assistir a actos de intolerância política, que denotam negação da existência de
outrem e atitudes negativas ou hostis à UNITA e outras formações políticas na
oposição.
O que acaba de
ocorrer na província do Kuando Kubango, contra a comitiva do Secretário
Provincial da UNITA, Adriano Sapiñala, que foi alvo de atentado por elementos
supostamente ligados à Casa Militar do Presidente da República, é inadmissível,
confirma apenas a existência de “mentes armadas” no seio de instituições do
Estado, interessadas no sofrimento das pessoas.
Duas viaturas
marca Land Cruiser, matrículas LD-41-59FM e LD-33-49 ET, da Casa Militar do
Presidente da República, transportaram elementos que perturbaram o normal curso
das actividades políticas do Secretário Provincial da UNITA, no Rivungo e no
Mbukussu, atentando contra a sua integridade física e dos demais membros da sua
comitiva.
Instituições
sérias deviam levar a cabo um inquérito sério, para a consequente
responsabilização dos seus autores.
Os partidos
políticos têm direitos que a Constituição da República de Angola (CRA) e as Lei
própria consagram. Contactar os cidadãos e fazer conhecer os seus programas
fazem parte dos direitos que assistem os Partidos Políticos. Quando os
militantes de um Partido Político, como a UNITA, legalmente constituído e com
32 assentos na Assembleia Nacional são impedidos de realizar as suas
actividades, estamos perante um terrorismo político do estado.
A Constituição da
República de Angola (CRA), diz no seu artigo 1.º que “Angola é uma República
soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do
povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade
livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social”.
Quando são
efectivos ligados à Casa Militar do Presidente da República que se entregam aos
actos de violência, ocorridos no Rivungu e Mukussu contra a caravana da UNITA,
e comandados por administradores que são representantes dos órgãos do Estado,
temos de entender que o espírito de paz e do respeito às leis do país, à vida e
dignidade humanas não foram incutidos o suficiente no seio daquelas unidades,
ou estamos perante factos que confirmam a agenda secreta do Partido no poder
com vista a criar instabilidade política no país.
Num estado
democrático de direito que se diz que Angola é, não deviam ser permitidas
acções de pura selvajaria, em que elementos usando meios públicos e pagos com
dinheiro do erário público, persigam e atentem contra vida de cidadãos em pleno
gozo de seus direitos e garantias. Com essas acções violentas e contra a paz e
reconciliação nacional, os efectivos da Casa Militar do Presidente da República
violam o postulado do artigo 2 da CRA, sob a epigrafe Estado Democrático de
Direito, que consagra “(….) o primado da Constituição e da lei, a separação de
poderes e interdependência de funções, a unidade nacional, o pluralismo de
expressão e de organização política e a democracia representativa e
participativa”.
O silêncio em
torno desse assunto, denota cumplicidade da instituição Presidência da
República e da Procuradoria-geral da República, esta última responsável por
investigar crimes públicos.
Há pessoas que
não querem admitir que vivemos no século XXI, onde o monolitismo, que parece
ser a vontade do partido no poder, não serve ao país.
É preciso mudar,
aceitando o convívio na diferença. É salutar, é bom e engrandece o país e a
sociedade.
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