Lisboa - As autoridades
angolanas têm de libertar
imediatamente e de forma incondicional os dois
defensores
de direitos humanos que foram detidos na região de
Cabinda, apenas
por exercerem os seus direitos de
liberdade de expressão e de protesto
pacífico, é instado em
conjunto por cinco organizações, incluindo a Amnistia
Internacional.
José Marcos Mavungo foi
detido no passado sábado, 14 de
março – dia para o qual
estava planeada uma manifestação –, e formalmente
acusado de “insurreição” dois dias depois. Já Arão Bula
Tempo, também defensor
de direitos humanos, foi detido e
não se conhecem as acusações contra ele
formuladas.
“Estas detenções arbitrárias são o mais recente exemplo
de um padrão perturbador de crescente repressão das vozes dissidentes, de
protestos pacíficos e da liberdade de expressão em Angola, em especial na
província de Cabinda”, avalia a vice-diretora da Amnistia Internacional para a
região da África Austral, Muleya Mwananyanda. “Cremos que não existe nenhum
fundamento para a detenção destes defensores de direitos humanos nem para as
acusações de ‘insurreição’ que foram deduzidas contra um deles. Isto goza com
os direitos de liberdade de reunião pacífica e de expressão”, prossegue a
perita.
A Amnistia Internacional, o Centro de Litigação da África
Austral, a Advogados para os Direitos Humanos, a Associação de Advogados da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e a Comissão Internacional
de Juristas instam as autoridades angolanas a libertarem todos os que foram
ilegalmente detidos.
José Marcos Mavungo foi detido junto a uma igreja em
Cabinda quando se dirigia para missa da manhã. O governador de Cabinda proibira
o protesto que fora organizado para aquele sábado, com o argumento de que o
mesmo “representava falta de honra e do respeito devido ao povo e às
instituições governamentais”. E Arão Bula Tempo, advogado de direitos humanos e
presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados, foi detido
pelas forças de segurança em Cabinda perto da fronteira com o Congo.
Uma semana antes, a 6 de março de 2015, o advogado tinha
feito um discurso frisando a necessidade de independência dos advogados em
Cabinda e em outras partes de Angola.
“As autoridades angolanas têm de parar de responder à
dissidência pacífica com repressão. As pessoas têm de poder expressar-se de
forma livre e sem medo de represálias. Acusar defensores de direitos humanos de
‘insurreição’ porque criticaram o Governo é uma flagrante violação da liberdade
de expressão”, sublinha a diretora regional do Centro de Litigação da África
Austral, Muluka Miti-Drummond.
Por seu lado, Jacob van Garderen, diretor para a África
do Sul da organização Advogados para os Direitos Humanos, avança: “Os direitos
de liberdade de expressão e de reunião pacífica estão protegidos ao abrigo das
leis internacionais de direitos humanos. Angola ratificou voluntariamente
tratados internacionais, com o que concordou e se comprometeu a respeitar e
proteger direitos humanos fundamentais e tem de honrar esse compromisso”.
E o diretor do Programa Regional para a África da
Comissão Internacional de Juristas, Arnold Tsunga, frisa que “a Constituição de
Angola requer que os cidadãos possam exercer o direito de liberdade de
expressão". "É escandaloso que as pessoas estejam a ser presas apenas
por fazerem ouvir as suas opiniões”, remata.
A dissidência é frequentemente tratada com repressão, e
amiúde violenta, pelas autoridades de Angola. A Amnistia Internacional tem
vindo a documentar como a liberdade de expressão e de reunião pacífica são
ilegalmente restritas no país, mais recentemente no relatório “Punishing
dissent: suppression of freedom of association, assembly and expression in
Angola” (Punindo a dissidência: a supressão da liberdade de associação, de
reunião e de expressão em Angola), emitido em novembro de 2014.
Aqueles que criticam a governação do Presidente, José
Eduardo dos Santos, são visados com execuções sumárias, desaparecimentos
forçados, detenções arbitrárias e tortura. Apesar de a liberdade de expressão e
da liberdade de reunião pacífica estarem claramente consagradas na Constituição
angolana e em vários tratados internacionais que Angola assinou e ratificou, as
violações destes direitos continuam a ocorrer no país.
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