Por A. Epesse
Sob o título ”José
Eduardo dos Santos: O Rei Sol angolano, texto de Nicolau Santos,
recentemente publicado na internet e que teve por base ilustrações de Jeanne
Waltz, pude ler a seguinte frase que me chamou a atenção:
“O homem que domina a
política angolana quase há 36 anos está a caminho de dar mais um golpe de
mestre. Invocando as circunstâncias excepcionais que o país enfrenta, como já o
fez em várias ocasiões, prepara-se para ficar no palácio presidencial até 2022,
quando tiver 80 anos”.
Afinal, que circunstâncias são essas que o país enfrenta e
que exigem a tomada de medidas excepcionais?
No cômputo geral, o que se sabe é que neste momento, o pais
enfrenta quase todo o tipo de problemas, nomeadamente no campo político,
económico, social e jurídico.
Excepto alguns privilegiados mas muito poucos do próprio
MPLA, a maioria dos angolanos sente na pele e na alma que vive num país onde as
suas liberdades e garantias foram a muito cerceados porque não conseguem viver
na plenitude, o verdadeiro sentido da independência, por aquilo que chamam de
país ter sido praticamente assaltado.
Portanto, sem sabermos ainda o que José Eduardo dos Santos
poderá classificar como “circunstâncias
excepcionais”, embora espere que tal excepção não venha a ser aplicada, convinha que todos entendessem o sentido e as
consequências políticas e sociais que resultariam do recurso a essa medida
estrema que é a excepção porque, se a sua aplicação for no real sentido da
palavra, estaremos perante um expediente que não é assim tão simples de
entender, como muitos pensam porque, durante o período em que tal medida
vigorar, cessam todos os direitos e garantias dos cidadão, de reclamar,
contestar, manifesta-se ou dar qualquer opinião sobre os actos do poder
político.
Seria realmente um golpe de mestre nas palavras de Nicolau Santos,
versão Jeanne Waltz.
Seria assim porque, trata-se de uma das últimas armas que
normalmente os ditadores utilizam quando o que estiver em causa é a
materialização dos objectivos pretendidos, sem que haja oposição de quem quer
que seja, até mesmo dos próprios partidos políticos, uma vez que, tal medida,
dar-lhe-ia a autoridade de desrespeitar até a própria lei, numa só palavra
significaria a paralisação durante o período de vigência da excepção, da
própria constituição, por talvez ter esgotado os objectivos anteriormente
pretendidos.
Ora, será isso possível quando faltam 20 (vinte) meses para
as eleições gerais no país?
No dia 31 de Dezembro de 2015 publiquei no facebook um texto
de opinião com o título “Angola na Política de 2015”.
Um dos assuntos abordado na secção: Campo político e da
segurança, foi:
- O presidente a 37 anos na presidência, continua a dar
sinais de não querer abandonar o poder porque pensa que ele ou a sua família
são os únicos capazes de governar Angola.
- Para isso, criou condições de mais uma vez repetir pela
enésima vez a fraude eleitoral em 2017, através da atribuição do registo
eleitoral ao executivo que ele próprio dirige, sem esquecer a alteração da
Constituição por si operada em 2011, para se fazer eleger sem ser votado.
- Criou sobre si o culto de adoração e veneração que procura
manter a todo o custo dentro e fora das fronteiras do país, e ao menor sinal de
descrédito político envia jovens embaixadores itinerantes e inexperientes, para
explicar no estrangeiro coisas totalmente diferentes da realidade angolana.
Agora, o que é que o presidente pretende resolver com o
recurso ao expediente “excepção”?
No campo político muitas coisas já foram feitas porque,
aproveitando uma maioria na Assembleia Nacional que vinha duma eleição
fraudulenta de 2007, o presidente mandou alterar a constituição em 2011 para se
fazer eleger em 2012 sem ser votado.
De lá para cá, muitas atrocidades já foram cometidas, cujo
eco ultrapassa as fronteiras do pais e atormenta a todos.
No campo económico - com o andar do tempo tudo passou a ser
previsível porque, os dirigentes e os ministérios nunca se preocuparam com o
futuro da economia do país, porque, a dada altura, todos começaram a
preocupar-se mais com o seu próprio futuro económico.
Em poucos anos o país criou um punhado de milionários e uma
única bilionária a nível da África, um país e em que, de acordo com o “New York
Times” a riqueza do próprio Presidente
José Eduardo dos Santos passou a ser de 20 (vinte) mil milhões de dólares,
ou que seja, cerca de 14 (Catorze) mil milhões de euros.
Excepção para quê?
Para aumentar mais o sofrimento do povo que já sofre com falta de tudo e agora
com o aumento exorbitante do preço dos combustíveis o que acontece porque o
governo deixou de os subsidiar? Preço de combustíveis tão alto num país que
produz petróleo como se a culpa fosse do povo?! Ou a excepção serviria para
devolver todo aquele dinheiro de que alguns se locupletaram a partir do erário
público?
Por isso, Senhor presidente, repito mais uma vez para dizer
que, tem ainda vinte meses isto é, até as próximas eleições de 2017, para se
reabilitar perante o povo angolano que tem estado cada vez mais divorciado da
sua política de exclusão e intolerância, e o mínimo que pode fazer é começar
por evitar que haja mais preparativos para mais uma fraude eleitoral porque, o
recurso a uma excepção política nesta fase, que não passa de dilatória, teria
como único objectivo arranjar tempo para atrapalhar as eleições de 2017 e
ganhá-las com mais facilidade porque,
apelando a lógica, só
pode dizer que quer ficar no poder até 2022, quem sabe que já tem tudo
preparado para ganhar as próximas eleições de 2017 com base numa fraude
eleitoral.
Senhor presidente, seria bom que tudo corresse bem em Angola
até as eleições de 2017, e que se evitasse criar mais excepções políticas que
nada ajudam porque o povo já não aguenta mais.
Se V.ª Exa quiser realmente resolver os problemas de Angola,
não será através de “excepções” mas sim através de entendimentos e o melhor
lugar para o efeito é o Parlamento, é a Assembleia Nacional, onde a evidência
para todos será a de privilegiar a dor da Nação angolana que sangra e não a
militância partidária que já provou que não serve para resolver os problemas de
Angola.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire