Luanda - A eurodeputada portuguesa Ana Gomes defendeu hoje que o
nepotismo e a corrupção têm mantido o silêncio dos ativistas detidos há um ano
em Angola, bem como o regime de José Eduardo dos Santos no poder.
Fonte: Lusa
Em declarações à
agência Lusa, Ana Gomes, eurodeputada do Partido Socialista (PS), disse ter pouca
esperança de que as autoridades angolanas possam vir a libertar os 17 ativistas
detidos a 20 de junho do ano passado e entretanto condenados a penas de prisão
até oito anos e meio por rebelião e associação de malfeitores.
Nessa data, uma
operação do Serviço de Investigação Criminal (SIC) fazia em Luanda as primeiras
detenções deste processo, que mais tarde ficaria conhecido como
"15+2", em alusão aos 15 ativistas que ficaram meio ano em prisão
preventiva e duas jovens que aguardaram o julgamento em liberdade, constituídas
arguidas em setembro.
"Acho que é
um ano em que vimos Angola descer a um fosso que nenhum de nós esperaria e
quereria e que tem obviamente a ver com a má governação e com a injustiça de
uns, da elite cleptocrata, estarem a enriquecer escandalosamente, enquanto a
maioria do povo empobrece, está na miséria e à mercê da doença e da fome",
afirmou Ana Gomes.
Para a
eurodeputada portuguesa, era "exatamente isso" que os
"revus", tal como ficaram conhecidos os ativistas detidos e
condenados, que se consideravam como "revolucionários",
"expressavam em críticas, justas e legítimas", que constituem "o
sentir do conjunto da população angolana".
"Foi por
isso que foram presos. Esperar-se-ia que tivesse havido alguma lucidez do
regime em não agravar e de corrigir os erros de uma prisão que se sabia o que
significava, mas não. Houve um escavar mais o buraco, não só com a situação dos
próprios «revus», com um julgamento que foi uma farsa (...) e com o agravar das
condições de vida e de má governação (...) sendo sinais perfeitamente
ostensivos do desgoverno, nepotismo e corrupção", sustentou Ana Gomes.
A antiga
diplomata disse referir-se concretamente a dois filhos do Presidente angolano,
Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, a primeira foi nomeada para a presidência
da Sonangol e o segundo responsável pelo Fundo Soberano de Angola, "com
todos os tremendos ressentimentos que tal implica na sociedade angolana e no
próprio Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
"Não quero
de maneira nenhuma ver a situação piorar, mas temo que iremos ver a situação
piorar antes de melhorar. Se houvesse uma réstia de lucidez e de bom senso
(...), mas, de facto, não houve a coragem de ir por diante em reconhecer o
tremendo erro da prisão dos «revus» e descomprimir as próprias tensões na
sociedade angolana", sublinhou.
"Temo que
hoje estejamos num ponto sem retorno por parte do regime angolano.
Somos todos
capazes de ver a situação piorar muito antes de começar a melhorar. E isso está
nas mãos do povo angolano", concluiu.
Somos todos
capazes de ver a situação piorar muito antes de começar a melhorar. E isso está
nas mãos do povo angolano", concluiu.
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