Maka Angola, 12 de Outubro de 2015
O preso político Benedito Jeremias queixa-se de dores
causadas pela tortura policial.
“Eu vi as feridas nos
pés, nas mãos e nas costas. Tive de lhe fazer massagem porque estava muito
inflamado. Levou muita porrada. Foram 18 a 20 polícias a torturarem-no. Ele mal
consegue andar”, denunciou Henriqueta Diogo sobre o terror vivido pelo seu
marido, o prisioneiro político Benedito Jeremias, na passada sexta-feira, na
Penitenciária-Hospital de São Paulo, em Luanda.
Segundo Henriqueta Diogo, o seu marido e mais cinco detidos
do Processo 15+1, decidiram protestar, naquele dia, contra o que consideram ser
um direito elementar: o de conversarem entre si nos intervalos.
“Os polícias começaram a espancá-lo na cela com porretes
eléctricos, enquando o director-adjunto da Penitenciária, Aldivino Oliveira,
tirava fotos e filmava tudo. Ele foi arrastado para fora da cela e passaram a
castigá-lo”, disse Henriqueta Diogo.
Maka Angola contactou, por via telefónica, o
director-adjunto Aldivino Oliveira, e questionou-o sobre a tortura denunciada
pela esposa de Benedito Jeremias. “Para qualquer assusnto inerente aos serviços
prisionais deve contactar a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais”, respondeu
de forma lacónica.
Para além da esposa,
a activista Rosa Conde, que esteve com Benedito Jeremias logo após este ter
sido torturado, confirmou também que o director-adjunto da penitenciária ordenara
aos seus homens que “manipulassem as armas [apontassem as armas com bala na
câmara] contra o Benedito e disparassem se ele resistisse à tortura”.
“O Bingobingo também foi espancado com porretes eléctricos.
Os polícias despiram-no na cela, nu mesmo, e torturaram-no assim e
arrastaram-no despido para o pátio”, contou Rosa Conde, após ter conversado com
Albano Bingobingo e ter recolhido o seu testemunho.
As activistas Rosa Conde e Laurinda Gouveia são as duas
arguidas em liberdade, acusadas pela Procuradoria-Geral da República de
rebelição e atentado contra o presidente da República, e anexas ao Processo dos
15+1. Inicialmente, o procurador-geral da República, general João Maria de
Sousa, acusou-os politicamente de terem estado a preparar um golpe de Estado,
enquanto liam manuais e livros sobre estratégias de resistência não-violenta
contra ditaduras.
Ambas participaram, ao fim do dia de sexta-feira, no
encontro com o director-adjunto da Penitenciária de São Paulo, Aldivino
Oliveira, onde ouviram as suas justificações sobre as “medidas duras” que
tomaria contra os presos políticos.
“Quando o director nos disse que tomaria medidas, afinal já
as tinha tomado. Mandou torturar os nossos manos, fez vídeos e fotos do acto.
Isso não é nada bom”, lamentou Rosa Conde.
Estiveram também, no referido encontro, Fernando Bapista
(pai de Nito Alves), Deolinda Luísa (mãe de Benedito Jeremias), um tio de Nito
Alves e os activistas Pedro Malembe, Mário Faustino e Santos Kuntuala. Durante
o encontro, os presos políticos Afonso Matias (Mbanza Hamza), Albano
Bingobingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Hitler Jessy Chiconde e Nito
Alves foram chamados, um por um, para que pudessem falar com os presentes.
Maka Angola
contactou uma jurista, que prefere o anonimato, para aferir a legalidade do
acto de tortura supostamente ordenado por Aldivino Oliveira. “As ofensas
corporais configuram violação a direitos e princípios consagrados na
Constituição, como o direito à vida, à integridade fisica, o direito à
dignidade da pessoa humana, entre outros.”
Segundo a opinião desta advogada, “os seus autores devem ser
objecto de procedimento criminal”
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