REPÚBLICA
DE ANGOLA
UNIÃO
NACIONAL PARA A INDEPENDÊNCIA TOTAL DE ANGOLA
U
N I T A
GABINETE DO PRESIDENTE
Réplica
do Presidente da UNITA
ao
discurso do Presidente da República
sobre
o Estado da Nação
19
DE OUTUBRO DE 2015
Angolanas e angolanos
Cumpre-nos
apresentar, no exercício do direito democrático de oposição, a nossa réplica
política ao conteúdo da mensagem que o Senhor Presidente da República dirigiu à
Nação na passada semana.
Em primeiro
lugar, gostaria de desejar ao senhor Presidente da República votos de melhoras
no seu estado de saúde.
Em segundo
lugar, importa registar que o nosso país atravessa o pior momento da sua
história de 13 anos de paz. As famílias estão em crise, a economia está em
crise, as empresas estão em crise; a identidade nacional está em crise; a
educação está em crise; a saúde está em crise; a justiça está em crise; a moral
pública está em crise; o lixo está em crise, até a corrupção está em crise, porque
muitos poderosos estrangeiros que fazem negócios corruptos com Angola estão a
ser presos nos seus países.
Povo angolano:
O Senhor Presidente
da República caracterizou o Parlamento como “a Casa da Democracia, local onde decorrem os principais debates
sobre os assuntos mais candentes da vida nacional...”
Muitos Deputados ouviram incrédulos tal
afirmação, porque sabem que o Parlamento não actua como um órgão efectivo de
soberania. Temos um Parlamento
asfixiado, impedido de exercer com eficácia as competências de controlo e
fiscalização dos actos do Poder Executivo do Estado.
Os principais debates sobre os assuntos mais
candentes da vida nacional não
ocorrem no Parlamento entre os representantes da cidadania. Ocorrem num círculo
muito restrito de pessoas, todas elas de um só Partido, aliados por interesses
obscuros que colidem com os superiores interesses do povo soberano de Angola.
O Senhor Presidente sublinhou o cerne da sua
mensagem quando afirmou que : “a situação política do nosso país é estável” e
que “na generalidade, tem havido o cumprimento dos preceitos constitucionais e
da Lei pelas instituições, pela sociedade e pelos cidadãos.”
Nós perguntamos:
Como podemos falar de estabilidade política
quando na verdade o país tem presos políticos e o governo agride, prende e mata
as pessoas
apenas por pensarem diferente? Como podemos
falar de estabilidade política quando o governo leva a cabo permanentemente
agressões politicamente motivadas contra o seu próprio povo?
A mensagem do Senhor Presidente afirmou ainda
que “as entidades competentes têm tomado as providências necessárias para se
evitarem ou repararem todos os actos que significam abusos do poder, violação
dos direitos humanos ou do ordenamento jurídico estabelecido”.
Os angolanos ouviram incrédulos tais
afirmações, proferidas no mesmo ano em que o Estado orquestrou o massacre de cidadãos
no Monte Sumi, Província do Huambo e as organizações internacionais dos direitos humanos
consideraram que "no último ano tem vindo a ocorrer uma escalada
repressiva sem precedentes" em Angola e que as prisões dos activistas José Marcos Mavungo, condenado em Cabinda, Rafael
Marques, condenado a pena suspensa em Luanda, e dos 16 jovens, "foram infundadas e
totalmente arbitrárias.
“Essa situação não é
compatível com o Estado de Direito e Democrático de Angola, nem com os pactos
internacionais que o Estado angolano ratificou", afirmaram.
Os actos que
significam abusos do poder ou violação do ordenamento jurídico estabelecido”,
como referiu o Senhor Presidente da República não podem obviamente excluir os
seguintes:
O enriquecimento de dia para noite dos
principais dirigentes do país, quase todos de origem camponesa pobre e o seu
silêncio cúmplice em face das violações endémicas dos direitos humanos;
A utilização pelo Estado de garantias
soberanas e de fundos públicos para resgatar o crédito mal parado em bancos
privados, que foram contraídos por entidades privadas, para enriquecimento
privado e ilícito de um pequeno grupo de indivíduos, todos eles ligados ao poder
político;
As desigualdades gritantes entre a grande maioria
de cidadãos que é pobre, não tem água potável para beber, não tem um sistema de
educação decente, morre de doenças evitáveis; e a minoria que se tornou
milionária por desviar os fundos públicos que deveriam ser utilizados na saúde
e na educação dos mais desfavorecidos.
A utilização, pelo
Executivo, do sistema judicial para silenciar e intimidar os cidadãos, através
de prisões, acusações ou sentenças por encomenda, executando ordens superiores.
Todos estes actos
configuram abuso do poder e violação
do ordenamento jurídico estabelecido.
De facto, o
sistema revela-se impotente para assegurar a defesa dos direitos e interesses
legalmente protegidos e reprimir as violações da legalidade democrática.. Ou
seja, o sistema não consegue pôr na cadeia aqueles que desviam os recursos
públicos para enriquecimento ilícito, vivem do peculato e dirigem os esquemas
de corrupção. Não consegue!
No seu lugar, estão
na cadeia jovens corajosos que denunciam as falhas do sistema e o confrontam no
exercício do direito à liberdade de expressão, de reunião ou de manifestação, nos
termos da Constituição e da lei.
Este quadro de abuso do poder e de violação
permanente do ordenamento jurídico estabelecido é que caracteriza o estado da
Nação.
Caros compatriotas:
Relativamente às eleições autárquicas
previstas na Constituição desde 2010, o Senhor Presidente da República não
mostrou interesse em convocá-las. Voltou a demonstrar a sua dificuldade em
conviver com o poder autónomo dos cidadãos quando reafirmou a sua vontade de agendar
as eleições autárquicas para um indefinido “tempo oportuno.”
Estamos de acordo com o Senhor Presidente
quando afirma, e eu cito, “Não vale a
pena procurarmos atalhos para chegar ao poder político, violando a Constituição
e a Lei”.
Infelizmente é isto o que têm feito os
serviços da Casa Militar do Presidente da República em cada ciclo eleitoral.
O Tribunal Supremo tem em mãos, há mais dois
anos, evidências irrefutáveis de que os resultados eleitorais em Angola são preordenados e que os processos
eleitorais fraudulentos, organizados e dirigidos pelos serviços do Senhor
Presidente da República, não são mais que “atalhos” para se chegar ao poder
político, violando a Constituição e a Lei”, como referiu o Senhor Presidente da República.
Os atalhos para 2017 incluem certamente a nova
Lei do registo eleitoral, que atribui competências eleitorais ao seu
proponente, o Titular do Poder Executivo, numa clara violação dos princípios da
reserva da Constituição, da administração eleitoral independente e da
supremacia da Constituição e legalidade, consagrados nos artigos 117º, 107º e
6º da Constituição.
Será esta a desordem e o caos referidos pelo
Senhor Presidente da República? Se for, registe-se que não foram instalados em
Angola pela oposição legítima, eleita pelos cidadãos, nem pelos activistas que estão
presos sem culpa formada, nem por alegadas “entidades estrangeiras”, mas apenas
pelos actuais detentores do poder.
Isto significa, prezados compatriotas, que à semelhança
de outros regimes africanos, o regime angolano também pretende continuar a
utilizar meios ilegítimos, manobras legislativas e outras formas não previstas
nem conformes com a Constituição para manter-se no poder que ocupa nos últimos
36 anos.
Prezados Compatriotas:
Ao apreciar o estado da economia e das
finanças públicas apresentado na mensagem do Senhor Presidente da República, é
importante ter sempre presente que o Governo não produz nada. O Governo não é
dono dos recursos de Angola. O petróleo é nosso; os diamantes são nossos. O
dinheiro no BNA é nosso. As divisas são nossas! O Governo não tem nada que é
dele. O Governo é um simples administrador dos recursos de todos. E a arte e
privilégio de governar inclui o dever de usar os recursos públicos nunca para
benefício pessoal dos governantes ou das suas famílias, mas para o benefício
público. E disso deve o Governo prestar contas ao povo representado na
Assembleia Nacional pelos seus deputados.
É nesse contexto de prestação de contas que a
Constituição manda o Senhor Presidente da República, enquanto Administrador do
dinheiro público, dirigir uma mensagem à Nação para explicar o estado real da
economia e das finanças do país.
Em síntese, o Administrador do nosso dinheiro
afirmou que, “a quebra do preço do petróleo, para além da redução substancial
da despesa pública, implica também redução das receitas de exportação, o que
faz diminuir a oferta de cambiais para os agentes económicos e tem um impacto
directo no crescimento do PIB, gerando efeitos em toda a economia, em
consequência das relações entre os diversos sectores”.
Disse ainda que, e eu cito, “nos últimos anos
têm surgido alguns desafios, como a redução da acumulação de divisas que teve
vários efeitos quase imediatos, quer na subida generalizada de preços,
incluindo o preço da moeda nacional face ao dólar norte-americano, quer também
no rendimento disponível da grande generalidade da população que sofreu uma
quebra apreciável”.
Os peritos afirmam que estas palavras não informam
com lisura, transparência e verdade a real causa da crise actual, porque há
muito dinheiro do petróleo que foi guardado quando o preço do petróleo estava
em alta e o Administrador desse dinheiro guardado não está a dizer onde está este
nosso dinheiro.
Trata-se
do Fundo do Diferencial do Preço do Petróleo.
Este Fundo é capitalizado com o excesso do
preço de venda do petróleo relativamente ao preço de referência fiscal estabelecido
no OGE. Nos últimos quatro anos, terão entrado para este Fundo cerca de $37 mil
milhões de dólares.
Segundo os peritos, e com base na produção
que se traduz em receitas fiscais para efeitos do OGE e nos preços realizados,
foram colocados à guarda do Senhor Presidente da República $37 mil milhões de
dólares, sendo $15,3 biliões em 2011, $15,0 biliões em 2012, $4,4 biliões em
2013 e $ 2,3 biliões em 2014.
Onde está esse dinheiro?
Além deste Fundo, Angola criou em 2011,
através da Lei 26/10, de 28 de Dezembro, Lei do Orçamento Geral do Estado para
o Exercício Económico de 2011 (mantendo-se a disposição nas leis subsequentes) uma
outra reserva que também ficou à guarda do Senhor Presidente da República.
Chama-se Reserva Estratégica Financeira Petrolífera para Infraestruturas de
Base.
Esta reserva é alimentada por uma parte da
receita resultante dos direitos patrimoniais do Estado nas concessões
petrolíferas. Segundo dados oficiais do Ministério das Finanças, nos últimos
quatro anos, tal receita atingiu a cifra de $ 93 mil milhões de dólares, sendo:
2011 2012 2013 2014
Concessionária Sonangol
(Mil milhões USD 20.8 28.0 24.5 19.8
(Fonte: Ministério das Finanças - OGE)
Estes
dois fundos somados totalizam cerca de 130
mil milhões de dólares. Este dinheiro é suficiente para o país todo
viver bem durante mais de dez anos! Onde está esse nosso dinheiro?
Compatriotas:
As
famílias estão a viver situações dramáticas com a falta de divisas. Os filhos
que foram estudar estão a ser postos fora de casa porque não têm dinheiro para pagar
as rendas. Os que foram em tratamento médico estão a piorar não têm dinheiro para
pagar as consultas. As empresas também não estão a receber
divisas suficientes para honrar seus compromissos.
O
Banco Nacional de Angola diz que vende as divisas aos bancos comerciais, mais
de 300 milhões por semana. Os bancos comerciais, por sua vez, dizem que não
recebem o suficiente. Quem está a dizer a verdade?
O
povo não entende este jogo de empurra. Diz que os donos dos Bancos são os
mesmos e o Chefe é um só. A verdade é que o dólar que no mercado oficial custa
entre 135 a 140 Kwanzas, está a ser vendido nas ruas entre 223 a 230 Kwanzas, e
já chegou a ser vendido a 300 Kwanzas. Onde é que vamos parar?
Há
algumas perguntas que o Administrador das nossas divisas precisa de responder:
As
Kinguilas dizem que existe uma rede de cambistas e especuladores que tem acesso
aos leilões do BNA e tem poderes para não alimentar o mercado oficial e colocar
as divisas nas ruas. Esta rede tem como principais agentes cambistas
senegaleses, malianos, beninenses e congoleses, porque seus chefes não querem
riscos e por isso evitam os angolanos. Estes cambistas estrangeiros, por sua
vez, empregam a maior parte das kinguilas, que, por sinal, operam mesmo nas
portas dos principais Bancos comerciais ante o olhar impávido da autoridade
cambial.
O
que diz o Senhor Presidente? Há algo de verdade nisso? Quem emite os vistos de
residência desses cambistas? Quem retira as notas novas do sistema bancário
para abastecer o mercado paralelo?
Para
onde vão os milhões de kwanzas gerados pelas redes grossistas dos libaneses,
brasileiros e portugueses e pelas redes retalhistas dos mamadous?
Quem
controla a integridade das transações das casas de câmbio? E quão eficaz é este
controlo? Haverá de facto empresas não financeiras que têm acesso directo ou
indirecto ao leilão de divisas efetuado pelo BNA?
Tem
de haver alguma relação entre a falta de divisas para as famílias e as empresas
e o abastecimento do mercado negro com divisas retiradas do circuito oficial.
Muitos
cidadãos atentos acreditam que há uma relação directa entre o desaparecimento dos
dinheiros das reservas, a escassez de divisas nos Bancos e abastecimento
regular do mercado paralelo de divisas. Acreditam que os chefes das redes são
os mesmos e que o Administrador do nosso dinheiro deve saber alguma coisa!
Acreditam, no
fundo, que estão a roubar demais, como diz o povo, e que o
desaparecimento destes dinheiros constitui a verdadeira causa da crise financeira
que o país vive e não apenas a baixa do preço do petróleo.
Este
é o verdadeiro estado da Nação!
Ao mesmo tempo que os dinheiros desaparecem,
durante os últimos anos, a imprensa internacional deu conta de vários ilícitos
envolvendo o Executivo angolano ou seus parceiros. Por exemplo:
Angolanos ou seus agentes compraram no
estrangeiro várias empresas, títulos, fábricas e outros activos por via de
operações que configuram branqueamento de capitais.
Foram detidos, indiciados ou acusados de
corrupção no Brasil, na Europa e na China altas personalidades que fazem ou
fizeram negócios com o Presidente da República de Angola ou seus agentes.
A fuga de capitais ilicitamente exportados de
Angola foi estimada em cerca de 15 mil milhões de dólares.
Foram aplicados em Portugal, por pessoas
angolanas, nos últimos cinco anos, cerca de 17 mil milhões de dólares, ao passo
que o investimento estrangeiro em Angola não passou de menos de 2 mil milhões.
Sabendo destas notícias, o Administrador ou
gestor único dos fundos reservados, ordenou a alguns dos seus subordinados na
Assembleia Nacional para questionar ao Tribunal Constitucional se era legítimo
que alguém lhe perguntasse o destino desse dinheiro.
O Tribunal Constitucional, naturalmente,
disse que não. Disse que, no exercício da competência de controlo e
fiscalização, os deputados do povo, o dono do dinheiro, não podem fiscalizar os
actos do Administrador do dinheiro do povo, colocando-o assim, praticamente,
acima da Lei.
Este
é o verdadeiro estado da Nação!
Importa recordar aqui, a propósito, o apelo
que o Senhor Presidente fez no sentido de se “eliminar o desperdício e o
supérfluo .... para se tornar a despesa mais eficaz e eficiente”. Estamos de acordo com este apelo.
Porém, o Senhor Presidente terá gasto, durante os últimos anos, mais de trinta
milhões de dólares com a realização de eventos de marketing político
internacional, em Luanda e no estrangeiro. Destes, importa destacar o Fórum sobre Investimentos em Infraestruturas
Urbanas em África, evento que contou com a participação de mais de 350
delegados de 20 países e 70 empresas nacionais e estrangeiras.
À margem deste fórum, foram atribuídos os
prémios “Presidente José Eduardo dos Santos”, que, segundo o Ministro do
Urbanismo e Habitação, pretendem exprimir o “reconhecimento por todo o esforço,
toda a dedicação que o presidente de Angola trouxe àquilo que é o programa
nacional de urbanismo e habitação...”
Muitos arquitetos, ambientalistas e
profissionais do urbanismo que participaram do evento riram-se de nós, porque
não temos sequer um Plano diretor para as nossas cidades, não conseguimos gerir
as toneladas de lixo que produzimos todos os dias, não temos infraestruturas
básicas para o fornecimento seguro de água potável e luz, não sabemos gerir e
ordenar o tráfico rodoviário, desviamos o dinheiro público reservado para as
infraestruturas e queremos ter a veleidade de colocar o nome do nosso
presidente em prémios que distinguem a boa gestão de cidades...
E nisto o país gastou vários milhões de
dólares!
Este é o tipo de desperdício e supérfluo que
precisamos eliminar para se tornar a despesa mais eficaz e eficiente, como
afirmou e bem o Senhor Presidente da República.
Angolanas e angolanos:
Relativamente à implementação do Programa
Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e de Combate à Pobreza,
incluindo, nomeadamente, os Programas de Cuidados Primários de Saúde nos
Municípios, de Água para Todos e de Merenda Escolar, estamos convencidos que
estes programas só terão sucesso se forem organizados, implementados e
fiscalizados pelos próprios munícipes, através de representantes eleitos no
quadro da autonomia do poder autárquico, nos termos da Constituição.
O Estado só conseguirá cumprir o dever de
assegurar o acesso universal ao ensino obrigatório gratuito e de tornar
universais e gratuitos os cuidados primários de saúde em todos os bairros,
aldeias e comunas do país com o concurso das autarquias locais. Sozinho não
consegue. Insistir na política de retardar as autarquias constitui mais um
desperdício da receita pública.
Na sua mensagem à Nação, o Senhor Presidente
da República disse-nos, finalmente que contraiu créditos à China, não de 25 nem
de 18 mil milhões de dólares, como se dizia, mas apenas no valor de
aproximadamente 6 mil milhões de dólares, “destinados ao investimento público nos
domínios da educação, saúde, água, energia eléctrica e estradas, para assegurar
a execução de projetos identificados em 2016 e 2017”.
Mas não nos disse quais são nem de quem são
as empresas privadas, angolanas e chinesas, que beneficiarão desse dinheiro.
Nem nos disse que passos já deu para garantir a competitividade desta despesa e
a fiscalização da qualidade das obras envolvidas.
No mesmo dia em que o Presidente revelou o
valor do empréstimo da China, a imprensa
internacional noticiou que o empresário
Sam Pa, responsável da China Sonangol e um dos mais importantes intermediários
nos negócios entre Angola e a China, foi detido em Pequim no âmbito de uma
investigação contra a corrupção.
Perguntamos:
Quem vem a seguir? Há relação com o misterioso
empréstimo?
Só o tempo dirá.
O Presidente apresentou também uma “previsão
do aumento da captação do investimento privado estrangeiro de aproximadamente
10 mil milhões de dólares, nos próximos dois anos” e a criação de pelo menos “300
mil postos de trabalho”.
Perguntamos:
Com as ameaças que caracterizam o ambiente de
negócios em Angola, onde os investidores não conseguem expatriar os lucros e as
empresas dependem dos favores e do arbítrio do poder político para ter divisas
e honrar os compromissos assumidos, quem é que vai sair do seu país para vir
arriscar em Angola investimentos de 10 mil milhões de dólares fora do sector
petrolífero?
Os
empresários nacionais, por sua vez, precisam de um novo ambiente institucional para
participarem mais ousadamente do desafio da industrialização de Angola.
Infelizmente o Senhor Presidente da República não falou das potencialidades
agro -industriais do país nem das medidas de política que tem em vista para a
reestruturação do sistema produtivo. Temos de admitir que o modelo da acumulação primitiva de capital, por via
de empresas que nada produzem mas que apenas servem de veículos para adjudicação
de contratos públicos e recolha de comissões ou para simples comércio de
produtos importados, falhou redondamente!
Precisamos
de algo muito mais sério do que a simples diversificação da economia.
Precisamos de definir a matriz industrial de Angola e os fundamentos de um
programa nacional de industrialização de Angola, contando em primeiro lugar,
com as nossas próprias forças.
Esta
é uma exigência do actual estado da Nação!
Angolanas e angolanos:
É nossa convicção
que o modelo de gestão do poder político
e económico perseguido pelo regime do Presidente José Eduardo dos Santos falhou.
A ideia força do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013- 2017 - Estabilidade, Crescimento e Emprego – também falhou.
Não se alcança a estabilidade económica sem se alcançar primeiro a
estabilidade política. E quando digo estabilidade política, não quero confundir
com a estabilidade militar, porque esta há muito que já foi alcançada. A estabilidade política
só é usufruída pelos povos e governo que
respeitam os direitos humanos, respeitam a supremacia da Constituição e a legalidade e combatem a
corrupção.
Na República de uma só pessoa não pode haver
estabilidade, porque não há outros poderes para limitar o poder. O Presidente governa
como quer, não presta contas a ninguém e manipula as eleições como quer. O
poder assim exercido é por natureza instável.
Angolanas
e angolanos:
Apesar deste quadro, estou optimista sobre o
futuro de Angola, porque é grande o potencial de Angola e do seu povo. Contamos
com o saber e a energia de todos para resgatar a Pátria, estimular a
criatividade e construir instituições democráticas sólidas.
Estou optimista também porque este quadro aparentemente
sombrio revela sinais importantes e irreversíveis de que a Mudança está a
chegar.
A UNITA está a empreender um diálogo nacional,
tanto aberto como discreto, com todas as forças vivas do país, para definir as
bases da gestão da mudança que Angola reclama. Estamos empenhados numa mudança pacífica
e inclusiva, construída sobre valores morais, sem nenhum preconceito ou sentimento
de vingança.
Mudança que incluirá a todos, empresários e
trabalhadores, investidores e desempregados, ricos e pobres, os que talvez
simpatizem connosco e os que não gostam de nós, todos, incluindo os nossos
adversários de ontem. Mudança baseada na reconciliação, na promoção da
dignidade humana e na justiça social para todos.
Vamos
adoptar programas de emergência nacional para a educação, saúde, habitação,
emprego e segurança social. Estes cinco problemas constituem a principal causa
da pobreza em Angola e a UNITA vai considerar a pobreza UMA QUESTÃO DE
SEGURANÇA NACIONAL.
Os angolanos amadureceram bastante e a UNITA
também. Quando o povo nos conceder nas urnas o benefício da dúvida e nos
mandatar para formar o governo da mudança, não seremos guiados por filiações políticas, raça
ou qualquer outro tipo de predisposição. Teremos um governo de angolanos
competentes, e não um
governo de um partido político. Vamos governar com
tecnocratas e não só com
políticos. Vamos governar com todos e
para todos.
Transmito-vos estas palavras de esperança e
de confiança porque o futuro pertence-nos e juntos podemos vencer a endemia da corrupção e a
crise da má governação.
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