Maka Angola, 21 de Julho de 2015
O procurador-geral da República, general João Maria de
Sousa, o queixoso.
A Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP)
interrogou ontem o activista cívico José Gama por suspeita de ligação ao portal
Club-K, ao jornalista Rafael Marques de Morais e à empresária Lídia Amões, na
sequência de uma queixa apresentada pelo procurador-geral da República, general
João Maria de Sousa.
José Gama disse ao Maka Angola que a DNIAP, um órgão da
Procuradoria-Geral da República (PGR), “quer saber se conheço o senhor Rafael
Marques”.
Segundo o activista, a investigadora Elizeth Paulo
mostrou-lhe duas notícias que saíram no
Club-K – “PGR Estrangula Grupo Valentim Amões”, de 16 de Junho passado, e “PGR
Vinga-se de Lídia Amões”, de 24 de Junho – e interrogou-o sobre a autoria e as
fontes das notícias.
“Expliquei à DNIAP que Club-K é um portal da diáspora
baseado nos Estados Unidos da América e que as perguntas devem ser dirigidas
aos seus administradores. As autoridades devem fazer pesquisa na internet, que
indica onde o portal está alojado”, disse Gama. E acrescentou: “Perguntei sobre
a razão das perguntas sobre o senhor Rafael Marques e o que a minha relação com
ele tem a ver com o caso, mas não obtive qualquer resposta. Acho muito estranho
que eu seja chamado para responder a uma queixa do procurador-geral da
República para me perguntarem se conheço o Rafael Marques, num processo sem
nexo.”
O Maka Angola sabe, no entanto, que este tipo de atitude por
parte da PGR não é incomum. A empresária Lídia Amões, por exemplo, encontra-se
sob medidas de coacção da PGR há quase dois anos, sem que tenha sido acusada,
até à data, de ter cometido algum crime.
As medidas de coacção incluem a interdição de viajar para
outra província ou para o exterior do país, a sua apresentação quinzenal na
DNIAP e a proibição de mudança de residência ou emprego. Segundo um advogado
contactado por este portal, que prefere o anonimato, “essas medidas de coacção,
na realidade, correspondem a um termo de prisão domiciliária”.
Por sua vez, Rafael Marques de Morais é o fundador do Maka
Angola, no qual publica e assina regularmente os seus textos. É bem conhecida a sua opinião sobre o
procurador-geral da República. A 17 de Julho, em carta aberta ao
presidente, escreveu:
“O procurador-geral da República, general João Maria de Sousa,
precipitou-se ao anunciar publicamente, enquanto zelador da legalidade, que os
jovens estariam a preparar um golpe de Estado contra si. Desacreditou o que
resta de seriedade deste órgão judicial. O general João Maria de Sousa é muito
mau. É péssimo a servi-lo. A descrença no sistema judicial não contribui para a
sua segurança.”
Em 2009, o jornalista investigou os negócios privados do
procurador-geral da República, tendo concluído que, “em termos legais, as
actividades empresariais do general João Maria Moreira de Sousa, enquanto
magistrado, ferem, de forma grave, a lei fundamental do país”.
No entanto, a 20 de Setembro de 2013, os jornalistas Rafael
Marques de Morais e Alexandre Solombe foram violentamente atacados pela Polícia
de Intervenção Rápida (PIR), à saída de um julgamento, e apresentaram queixa à
PGR. O general João Maria de Sousa, a quem a queixa foi directamente
endereçada, abafou o caso. Os efectivos da PIR destruíram os equipamentos de
trabalho de ambos jornalistas e confiscaram um cartão de memória, sem razão
aparente.
“Parece-me mais um acto de raiva do que de justiça”, reagiu
o jornalista. “Essa obsessão com o meu nome faz-me lembrar um episódio que
ocorreu a 5 de Junho passado. Dois militantes e empresários que se dirigiam
para o acto de proclamação do Comité de Especialidade dos Empresários e
Empreendedores do MPLA, ao notarem a minha presença no mecânico a quem
recorreram, perguntaram-lhe por que diabo consertava o meu carro. Ao
manifestar-se independente, os dois militantes afirmaram que quando chegar a
hora de eu ser “metralhado”, o mecânico também poderá ser atingido como dano
colateral”. “Metralhado” é o termo usado para os disparos efectivos de uma
metralhadora contra alguém.
“Infelizmente, essa é a verdadeira justiça que temos neste
país, a do poder arbitrário”, rematou Rafael Marques de Morais.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire