João Manuel
Rocha
29/07/2015
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Rádio ligada à oposição foi cercada em Luanda, antes da
manifestação de solidariedade com activistas detidos. Em Lisboa, gritou-se
“Basta”.
A polícia angolana carregou com cães sobre algumas dezenas
de manifestantes que, esta quarta-feira à tarde, protestaram em Luanda contra a
detenção de activistas. O site informativo Rede Angola noticiou que várias
pessoas ficaram feridas e foram feitas detenções. Ao princípio da noite, não
havia dados concretos sobre o número de envolvidos.
Os manifestantes pretendiam dirigir-se à zona central do
Largo da Independência, para onde o protesto foi convocado, e conseguiram a
certa altura “furar” o dispositivo policial, segundo a Rede Angola. Mas foram
perseguidos, de acordo com o site e outros órgãos de informação, incluindo a
Agência Lusa e a rádio francesa RFI. Os jornalistas que cobriam o protesto
foram expulsos do local.
Ainda antes do episódio que marcou o protesto de Luanda,
Adolfo Campos, um dos activistas anti-regime, disse que tinham já sido detidos
17 jovens no município de Viana, na capital. Esses detidos estariam ligados à
organização da manifestação da tarde.
A concentração pretendia ser uma “manifestação pacífica”
contra a “violação dos direitos humanos" e as “prisões arbitrárias” de
dezena e meia de activistas detidos há mais de um mês em diversas cadeias da
capital. Mas Pedro Pedrowski, um dos organizadores, tinha manifestado
preocupação pela eventualidade de uma intervenção policial.
Os organizadores informaram ter participado por escrito ao
Governo Provincial de Luanda a realização da manifestação contra a detenção de
16 activistas, a 20 de Junho, na capital, e de um em Cabinda, há mais de quatro
meses. Mas o segundo comandante da Polícia Nacional, Salvador Rodrigues, disse
desconhecer qualquer manifestação “autorizada”.
Os detidos
em Junho permanecem sem acusação formal. A Procuradoria angolana considera que
estariam a preparar um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo
dos Santos, no âmbito de um alegado golpe de Estado. “Eles queriam alterar o
presente quadro, quer o Presidente da República, a Assembleia Nacional e,
portanto, houve de facto a necessidade de intervenção para não permitir que
houvesse uma insurreição na sociedade”, disse o vice-procurador-geral, Helder
Pita Grós, numa entrevista à TPA - Televisão Pública de Angola.
Ao início
da tarde, segundo o Rede Angola, o Largo da Independência foi cercado por
polícias. No recinto estavam cerca de três dezenas de pessoas, maioritariamente
membros da JMPLA, juventude do partido governamental, numa iniciativa vista
pelos activistas anti-regime como contra-manifestação. Para o largo,
acrescentou o site, foram encaminhados grupos de crianças às quais foram
oferecidas T-shirts do MPLA. Só a elas, e a membros da organização partidária
juvenil, era permitida a entrada no perímetro central.
Antes de serem dispersados, os manifestantes anti-regime
ainda gritaram, segundo repórteres no local, palavras de ordem como: “Queremos
os nossos irmãos”, semelhantes às que, um par de horas depois, sem restrições,
haveriam de ser gritadas em Lisboa, por cerca de centena e meia de pessoas que
se reuniram numa acção de solidariedade com os detidos.
“Libertem os nossos irmãos”, gritou um angolanos que subiu
ao pequeno palanque montado no Largo de São Domingos, junto ao Rossio, onde a
música intercalou com discursos de quem quis falar. “Libertem os nossos
irmãos”, responderam em coro os presentes. “Liberdade”, gritou. “Liberdade”,
repetiram.
"Libertação já"
“Estamos aqui para dizer: Chega e basta”, disse outro.
“Basta, basta”, responderam os manifestantes que acorreram ao apelo de cerca de
uma dezena de organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Amnistia
Internacional, apoio a imigrantes e partidos angolanos da oposição.
Em cartazes empunhados em Lisboa também constavam as
mensagens que os organizadores pretendiam transmitir: “Libertação já”, “Não às
prisões arbitrárias”, “Basta de Repressão em Angola”.
Entre os presentes estavam participantes num dos vídeos de
apelo à libertação dos detidos, como a cantora Aline Frazão, o artista Pedro
Coquenão e o escritor José Eduardo Agualusa. Para este, a actual contestação “é
a maior ofensiva da sociedade civil contra o regime, e o regime não está a
saber responder”. “É um movimento difícil de parar mesmo supondo que toda a
gente seja solta amanhã”, disse ao PÚBLICO.
Horas antes do início do protesto de Luanda, a sede da Rádio
Despertar, ligada ao principal partido da oposição, a UNITA, foi cercada por
agentes da Polícia Nacional, denunciou o director-adjunto, Queirós Chiluvia.
Foi detido um jornalista destacado para fazer reportagem dos preparativos da
manifestação convocada para o centro de Luanda.
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