Lusa | 06 Abril 2016, 18:23
O economista angolano Manuel Alves da Rocha acredita que
o apoio financeiro do FMI a Angola pode ascender a mais de 1,4 mil milhões de
dólares. Já a Eaglestone considera que a ajuda pode atingir os 1,5 mil milhões
de dólares.
O economista angolano Manuel Alves da Rocha considera que
o empréstimo que Angola deverá pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI)
pode ser maior que os 1,4 mil milhões de dólares (1,23 mil milhões de dólares)
de 2009 "porque a situação é agora bem pior".
"A situação é
bem pior do que em 2009, e nessa altura o empréstimo, saudado como o maior a
uma economia africana, foi de 1,4 mil milhões de dólares, portanto se pode
servir de indicação, podemos apontar para pelo menos esse valor", disse
Alves da Rocha em declarações à Lusa a partir de Luanda.
O Produto Interno
Bruto (PIB) de Angola deverá ter ficado, em 2015, nos 102 mil milhões de
dólares, segundo o FMI, o que significa que, se o valor do empréstimo rondar os
1,4 mil milhões, representará menos de 1,5% da riqueza produzida anualmente
pelo segundo maior produtor de petróleo da África subsariana, e será quase
igual à última emissão de dívida pública feita pelo país, no Novembro do ano passado.
Já o economista chefe da consultora Eaglestone, também em
declarações à Lusa, estima que o valor do empréstimo pode chegar aos 1,5 mil
milhões de dólares, o que representaria cerca de 1,5% do PIB que o FMI prevê
que Angola tenha gerado no ano passado, o primeiro ano completo de crise
petrolífera. Para Tiago Dionísio, este pedido de ajuda externa de Angola ao FMI
"traz mais credibilidade aos esforços" do Governo de Luanda para
diversificar a economia.
"A implementação de um programa com o apoio do FMI
traz mais credibilidade aos esforços que autoridades angolanas estão a
desenvolver no sentido do país reduzir a sua dependência do petróleo",
disse Tiago Dionísio à Lusa. O economista chefe da consultora Eaglestone,
especializada em mercados africanos e com escritórios também em Luanda, diz que
"a notícia não foi uma surpresa" e lembra que "os desafios que
Angola enfrenta devido à forte queda no preço do petróleo nos últimos quase
dois anos são bem evidentes".
Por isso, salienta, o país "não tem actualmente
muitas opções senão diversificar a sua economia", o que explica o pedido
de ajuda externa ao FMI, que disponibiliza verbas à medida que as políticas vão
sendo aplicadas.
No entender de
Manuel Alves da Rocha, um conhecido economista da Universidade Católica de
Luanda, o pedido de ajuda externa, hoje anunciado, "é o reconhecimento de
que o país está em crise financeira e da perspectiva assustadora relativamente
à dificuldade de fomentar o crescimento da economia com a queda do preço do
petróleo e com as perspectivas do sector petrolífero em termos de
produção" no país.
O Ministério das Finanças de Angola justificou hoje o
pedido de ajuda externa com a necessidade de aplicar políticas macroeconómicas
e reformas estruturais que diversifiquem a economia e respondam às necessidades
financeiras do país.
"Com o
objectivo de desenhar políticas macroeconómicas e reformas que restaurem o
crescimento económico forte e sustentável, de fortalecer a moldura
institucional que suporta as políticas económicas, de lidar com as necessidades
da balança de pagamento, e manter um nível adequado de reservas internacionais,
o Governo pediu o apoio do FMI para complementar a atempada resposta ao
declínio dos preços do petróleo", lê-se num comunicado do Ministério das
Finanças.
O documento não
anuncia qual o valor da assistência financeira, centrando-se antes na assunção
de um conjunto de compromissos políticos que passam pelo aumento da
transparência das contas públicas, maior diversificação económica e pela
promessa de um reforço da aposta nas áreas da agricultura, pescas, minas,
educação, serviços financeiros, água, serviços básicos e saúde.
Agora é importante perceber quais vão ser as
contrapartidas exigidas pelo FMI.
Para Alves da
Rocha, a questão essencial é saber como vão correr as negociações tendo em
conta as contrapartidas que o FMI geralmente impõe ao Estados que solicitam
essa ajuda, e que passa normalmente pela implementação de um pacote de
austeridade.
"Resta saber
qual a contrapartida que o FMI vai exigir, na medida em que nós já tivemos um
acordo monitorizado pelo FMI em 2009 durante dois anos e teve muitos apertos na
actividade do Estado, e nessa altura as expectativas de retoma do crescimento
do petróleo eram evidentes, ao passo que agora não há esta base".
O petróleo,
responsável por mais de 95% das receitas de exportação de Angola e mais de 50%
das receitas fiscais em 2015, segundo o Ministério das Finanças, tem
"perspectivas de evolução do preço muito negativas, de apenas 35 dólares
por barril", salientou Alves da Rocha, vincando as dificuldades da
população mesmo sem a austeridade tradicionalmente imposta pelo FMI.
"A população
está saturada de impostos, o rendimento disponível das famílias está a diminuir
e nota-se uma desvalorização dos salários da população devido à subida da
inflação, portanto não sei muito bem qual a margem de manobra do FMI e também
do Governo, que já retirou os subsídios quase todos ao preço do petróleo",
disse o economista, exemplificando as dificuldades com o panorama actual da
Saúde.
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