28/3/2016, 22:28
Já ninguém
esperava outro desfecho, mas os manifestantes que se concentraram em Lisboa
para denunciar a condenação de 17 ativistas angolanos prometeram não esmorecer
o protesto.JOAO RELVAS/LUSA
Já ninguém
esperava outro desfecho, mas os manifestantes que esta segunda-feira se
concentraram em Lisboa para denunciar a condenação de 17 ativistas angolanos
prometeram não esmorecer o protesto.
“Temos de
continuar a fazer o que temos feito até agora”, apelou Pedro Coquenão, músico e
um dos organizadores das várias concentrações que têm pedido “Liberdade, já!”
para os “presos políticos em Angola”.
Reconhecendo que
as tomadas de posição internacionais sobre o caso dos ativistas detidos em
junho do ano passado não resultaram e que “tudo continua a acontecer em Angola
como se não houvesse pressão”, o ativista disse que, sem pretenderem “adivinhar
a desgraça” — o cartaz já estava “pintado há uns dias” –, para os manifestantes
“tudo indiciava que o desfecho fosse algo deste tipo”.
Um tribunal de
Luanda condenou, por rebelião e associação criminosa, os 17 ativistas angolanos
a penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão
efetiva.
Os ativistas
rejeitaram sempre as acusações que lhes foram imputadas e garantiram, em
tribunal, que os encontros semanais que promoviam visavam discutir politica e
não promover qualquer ação violenta para derrubar o regime.
A “novidade” da
sentença conhecida esta segunda-feira é confirmar que, em Angola, “não há
exceção à regra”, resume Coquenão, considerando que este é “o abrir de um
outro” ciclo. Com uma vantagem: “agora está claro para todos qual é a posição
de toda a gente envolvida”.
Assumindo
“tristeza”, Pedro Coquenão diz que manter o assunto na agenda depende, agora,
de todos. “Depende de nós e em nós estão os media também. Os media não podem
estar a reboque de dramas mais ou menos insuflados pelo acentuar de uma greve
de fome aqui ou ali”, critica, apelando a que se investigue as relações que
Angola tem com Europa, Estados Unidos e “tudo o que sustenta” a sociedade
portuguesa. “Ou então, não estamos aqui a fazer nada, nem jornalistas, nem
pessoas”, sentencia.
Também presente
na concentração — que, às 19:00, juntava cinco dezenas de pessoas –, João Paulo
Batalha, da associação Transparência e Integridade, observou que o regime
angolano cumpriu “aquilo que toda a gente temia, mas esperava”, num “processo
absolutamente arbitrário” e numa “farsa judicial do princípio ao fim”.
“A justiça em
Angola está completamente corrompida e capturada” pelo poder e esta
segunda-feira deu “o pior possível” dos sinais, confirmando estar “domesticada
e politizada” e ser “apenas um braço da vontade da cúpula do regime”, denunciou.
Na concentração,
à irmã e à filha de dois anos de Luaty Beirão, um dos condenados (a cinco anos
e seis meses de prisão) juntaram-se políticos como Francisco Louçã, escritores
como José Eduardo Agualusa e figuras públicas como Ricardo Araújo Pereira, e
ativistas de associações como Amnistia Internacional, Solidariedade Imigrante e
SOS Racismo.
Serena Mancini,
irmã de Luaty, disse que estava “à espera” deste desfecho, embora mantenha
“esperança nos recursos”. Até lá, é preciso protestar. “Mais do que nunca,
Angola tem de sentir a pressão e as consequências daquilo que está a fazer”,
apelou.
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