Rui Verde, 26 de
Abril de 2016
Isabel dos Santos
escolheu a máxima trompeta do capitalismo americano para lançar a sua ofensiva
mediática internacional, o Wall Street Journal. Recentemente, dos Estados
Unidos para o mundo, a história de Isabel dos Santos foi contada nas suas
próprias palavras:
Este constituiu
um passo interessante, porque simultaneamente americanizou e mundializou a
questão dos movimentos financeiros de Isabel dos Santos. E assim permite-nos
focar na utilização dos mecanismos legais americanos para lidar com a situação.
Desde 2014, o FBI (Federal Bureau of Investigation), o Departamento Federal de
Investigação Criminal norte-americano, desenvolve um programa intitulado
Kleptocracy Assets Recuperation Initiative (KARI), que, entre outros relevantes
sucessos, já recuperou dinheiros desviados pelo filho de Theodore Obiang, da
Guiné Equatorial, e pelo general Sani Abacha, antigo homem forte da Nigéria.
Através deste
programa, a jurisdição norte-americana declara-se dotada de competências para
agir sempre que em qualquer parte do mundo sejam usados dólares
norte-americanos ou seja utilizado o sistema financeiro dos Estados Unidos.
Qualquer montante monetário que seja convertido em dólares é passível de
investigação.
O mesmo programa
tem legitimidade legal para arrestar e confiscar bens em qualquer parte do
mundo, desde que as respectivas jurisdições colaborem. Um exemplo: a pessoa X
de Angola é proprietária de um apartamento comprado com dólares em Portugal.
Esses dólares foram obtidos através de corrupção. Então, os EUA podem confiscar
esse bem, desde que Portugal colabore. E Portugal, devedor crónico do FMI,
dominado pelos americanos e membro da NATO, não vai colaborar? Claro que sim.
Portanto, neste momento, os bens portugueses dos angolanos corruptos estão ao
alcance do FBI.
Acresce que, de
acordo com a lei americana, não é necessário que tenha existido previamente uma
condenação criminal para que o FBI dê início a esses procedimentos.
De igual modo,
não é obrigatório que as denúncias sejam feitas nos Estados Unidos. Qualquer
pessoa, em qualquer local do mundo, pode dirigir-se a uma embaixada
norte-americana e proceder a uma denúncia, a qual será levada em conta e
investigada pelos EUA.
Finda a
investigação e comprovando-se a ilegalidade, os bens apreendidos são
posteriormente devolvidos aos povos dos respectivos países.
Esta iniciativa
leva-nos a duas conclusões:
Os vários milhões
retirados de forma ilegítima dos cofres angolanos ainda podem ser recuperados e
devolvidos ao povo angolano.
Havendo notícia
de Isabel dos Santos ter procedido a movimentações financeiras suspeitas em
dólares, poderá iniciar-se uma investigação por parte do FBI, alargada a todo o
mundo, e que cruzará com aquela que a Comissão Europeia lançou.
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