28 março 2016
Luanda - Sou
Sedrick de Carvalho. Uso esta página do site O GOLO, do qual sou director,
porque não tenho outra onde programar a publicação desta nota, pelo que me
desculpo já dado o aproveitamento. E estão a ler esta nota porque certamente já
estou de regresso aos calabouços da DITADURA.
Fonte: OGOLO
Às masmorras da
ditadura havemos de voltar
No dia 3 de Julho
ouvi o Presidente da República José Eduardo dos Santos comparar-nos com os
mortos no dia 27 de Maio de 1977, ou seja, dizendo que somos semelhantes ao
Nito Alves, José Van-dúnem, e tantos outros barbaramente assassinados, pois
"não [queriam] perder tempo com julgamentos" na altura.
Naquele dia
percebi que estávamos condenados, ou mortos até. Imaginava que nunca mais veria
a minha família. Mas então a sociedade angolana e a comunidade internacional se
mobilizou e exigiu a nossa libertação incondicional. Protestos múltiplos
aconteceram e ainda hoje mesmo estão a acontecer aqui, no país, em Portugal e
em outros países, depois de em Moçambique ter ocorrido na quinta-feira um
concerto com mais de trinta artistas denominado "Liberdade para os presos
políticos de Angola".
A exigência
surtiu efeito. Voltamos às nossas casas. Continuávamos presos, mas em casa,
pelo menos. Três meses se passaram. Três meses com a família. Aproveitei ao
máximo. Foi muito bom!
Infelizmente
estamos de volta às masmorras. E só estamos porque o Presidente da República
não iria admitir o contrário depois de ter aberto o peito e a boca para nos
comparar com os assassinados em 77.
É muito simples.
Desde o pronunciamento sobre a nossa prisão estúpida, ilegal e injusta que os
procuradores e juízes (que não valem muita coisa) se viram perante uma tarefa
hercúlea de satisfazer o discurso de JES. Coitado do juiz Januário que tanto se
esforçou para nos condenar e agradar ao chefe. Coitada da procuradora que até
teve de se disfarçar com uma peruca só porque tinha de agradar ao seu chefe. E
conseguiram. Por isso voltamos. Mas eles são também tão criminosos quanto quem
lhes manda. Mas não quero me alongar aqui.
Quero, sim,
agradecer todos aqueles que gritaram alto "Liberdade Já". Muito
obrigado!
Regressamos às
cadeias consciente de que para os povos serem libertados e usufruirem a sua
liberdade é necessário estarmos dispostos a enfrentar o ditador e a ditadura, o
corrupto e a corrupção, nem que tenhamos como consequências o que estamos a
viver agora. A história dos povos desenvolvidos está recheada de pessoas como
nós. É só pensarmos que muitos angolanos foram presos para libertar Angola do
colonialismo. Agora é o momento de sermos presos para libertar Angola da
DITADURA.
Ao terminar,
encorajo as angolanas e angolanos a ir à busca da LIBERDADE. Esta não será dada
mas conquistada. Lembremo-nos sempre que a SOBERANIA pertence ao POVO. Mostremos
que somos donos da SOBERANIA!
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