Exª Senhor
Presidente da Assembleia Nacional,
Ilustres
Auxiliares do Titular do Poder Executivo;
Caros Colegas
Deputados;
Minhas senhoras e
meus senhores:
Nos termos da
Constituição que fornece as linhas com que nos cosemos desde Fevereiro de 2010,
vem para esta Casa, para informação aos Deputados, o Relatório de Balanço da
Execução do Orçamento Geral do Estado, referente ao 3º Trimestre do ano de
2015.
Dizem-nos que é
mais um exercício de “fiscalização” dos actos do Executivo, apesar de nos ser
categoricamente rejeitada a possibilidade de exercer a fiscalização real do que
o Executivo faz com os recursos de todos nós.
Depois de se pôr
termo às deputações, de se eliminar do nosso dicionário as interpelações, de se
terem fechado todas as portas, numa clara mensagem de “não metam o nariz onde
não são chamados”, os discursos que formos ouvindo aqui, de alguns dos nossos
colegas do Grupo Parlamentar do MPLA, foram no sentido de que é com a discussão
e votação do Orçamento Geral do Estado, com a apreciação da Conta Geral do
Estado e com a informação sobre os relatórios trimestrais de execução orçamental
que os Deputados fazem a fiscalização. E isso, apesar de o Artigo 104º da
Constituição estabelecer, clara e inequivocamente, no seu nº 4, que “a execução
do Orçamento Geral do Estado obedece ao princípio da transparência e da boa
governação e é fiscalizada pela Assembleia Nacional e pelo Tribunal de Contas,
em condições definidas por lei” – fim de citação. Devo sublinhar aqui os termos
“execução”, “transparência” e “boa governação”.
Ora como aceitar o relatório
sobre a “execução” do Orçamento, fiando-nos apenas nos papéis que aqui nos
trazem, num país onde o azul pode ser cinzento, onde os recursos não são como
nos outros países (já que aqui o dinheiro anda, dança, corre, voa,
volatiliza-se, sem travão), e nos é negada a possibilidade de ir ao terreno ver
o que se passa de facto, perguntar aos gestores da coisa pública o que se passa
aqui e acolá? Como é que o próprio Executivo pode pretender passar a mensagem
de “transparência”, quando gerir, em Angola, tem sido um verdadeiro jogo de
cabra-cega, onde vale apenas o “esconde-esconde”? Como pode o Governo, em sua
própria defesa, mostrar “boa governação”, se não quer demonstrar boa
governação?
Mas o mais grave
ainda é o facto de termos ouvido, há poucos dias, na abertura de mais uma
reunião do Comité Central do MPLA, o próprio Titular do Poder Executivo, Sua
Excelência o Presidente da República, dizer que quem exerce o poder deve
fiscalizar-se a si mesmo já que o Parlamento não tem competência legal para o
fazer. Nos termos dos artigos 104º e 162º, a Constituição diz “a Assembleia
Nacional deve fiscalizar, sim”; o Senhor Presidente da República diz “não
fiscaliza coisa nenhuma”. Por outras palavras, o Executivo faz a gestão,
fiscaliza-se a si próprio e os Deputados fazem aquilo que o Executivo espera de
nós: dizer “amém” e bater palmas! Bem, da forma como o Senhor Presidente da
República traduz a situação, ninguém o pode acusar de não ter sido honesto.
A
dificuldade fica agora do lado dos colegas do Grupo Parlamentar, por enquanto
maioritário, que vão ter de fazer uma flexão de 180º no seu discurso, porque
“quem manda, manda; quem não manda, cumpre”. E antes dos colegas à minha
esquerda começarem a responder – como fazem sempre – quero apenas recordar que
a sabedoria ibinda diz o seguinte: “Ifumu n’samu ku mana sonsa, injala n’samu
imene”. Ou seja, “quando o principal interessado num assunto se pronuncia, tem
de acabar a vontade de argumentar sobre o mesmo assunto”.
Afinal, nós os
Deputados nem temos competência legal para fiscalizar os actos do Governo. Nem
sei, muito francamente, por que razão nos fazem perder tempo com este maço de
papéis, difícil de ler e de transportar, quando nos é negada a mínima
possibilidade de aferirmos da veracidade, grande, pequena ou nenhuma, do
emaranhado de informações que aqui nos trazem. E se não há fiscalização; se não
há uma transparente prestação de contas, a boa governação mora aonde?
Caros colegas
Deputados,
O nosso papel é
mesmo aceitar tudo, sem gritar, e depois bater palmas? Somos assim tão
parecidos com os norte-coreanos? OKO! Eu juro que não sou, Senhor Presidente.
Muito obrigado!
Raúl M. Danda
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