17 março 2016
Luanda -
Preocupada com a situação do país, a UNITA, na pessoa do seu Vice-Presidente,
apresentou hoje, em conferência de imprensa e em nome do Governo-Sombra de que
é coordenador, o estado da saúde no país e particularmente em Luanda, bem como
as vias de solução para esse caso que se transformou rapidamente numa
verdadeira tragédia nacional. Eis, para o conhecimento público, o texto da
conferência de imprensa:
Fonte: UNITA-
GOVERNO-SOMBRA:
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA SOBRE A SITUAÇÃO SANITÁRIA DE LUANDA E DO PAÍS, EM
GERAL
Senhoras e
senhores jornalistas,
Angola está neste
momento a viver uma verdadeira tragédia, fruto da má planificação orçamental,
da má gestão dos recursos públicos, do desprezo total dedicado à Saúde – sector
vital para qualquer país que busque verdadeiramente o desenvolvimento – da priorização
do desvio em detrimento do bem comum, da vontade marcante de erguer o betão e
derrubar o cidadão. Em Angola, os angolanos estão a sobreviver como vermes e a
morrer como vermes. Mata a febre amarela, mata uma outra febre qualquer, uma
diarreia qualquer, uma doença qualquer. Mas, o que é mais doloroso, é que matam
doenças perfeitamente preveníveis e evitáveis, se estivéssemos num país sério
e, sobretudo, com um governo sério. E isso, infelizmente, não temos.
O que se passa
nos hospitais deste país, e muito particularmente nos de Luanda, é uma
autêntica tragédia; é uma autêntica pouca vergonha. O grito de socorro vem do
Hospital Pediátrico de Luanda, do Américo Boa Vida, do Cajueiro, de todas as
unidades hospitalares onde falta tudo; absolutamente tudo; da luva à seringa;
do penso ao comprimido; do fio de sutura ao simples aspirador que leva à morte
dezenas de recém-nascidos; ao lado das morgues já sem capacidade para comportar
cadáveres, enquanto os caixões também fazem filas enormes à entrada dos cemitérios,
tal é o número de óbitos que ocorrem diariamente aqui em Luanda, onde todos os
visitantes são levados às centralidades do Kilamba, do Cacuaco, do Zango, etc.,
para ver a capacidade chinesa de erguer prédios, quando falta capacidade para
alimentar os cidadãos, assegurar-lhes alguma saúde e um mínimo de tempo de
vida. Isso, minhas senhoras e meus senhores, é o colapso de um governo e de um
regime que, volvidos 40 anos, se afunda de forma precipitada, mostrando
completa incapacidade, falta de engenho e abundância de maldade.
O que é que está
efectivamente a acontecer e o que é preciso fazer?
Há uma grande
avalanche de doentes que acorre aos hospitais em busca de socorro. São doentes
de malária e febres hemorrágicas como a dengue, chikungunya e febre amarela. O
aumento na incidência destas doenças é o resultado directo da combinação dos
amontoados de lixo espalhados pela cidade, e os charcos de água putrefacta que
se formam em decorrência das quedas pluviométricas que se abatem sobre a
cidade, nos últimos tempos. Esta combinação favorece as condições propícias
para o desenvolvimento de mosquitos, que são os vectores destas doenças, isto
é, que transmitem, através das suas picadas, os protozoários e vírus que as
causam. Como se sabe, quanto mais doentes há, maior a chance de existirem
mosquitos infectados e, portanto, capazes de transmitir a doença. Assim sendo,
é muito importante combater o vector por métodos diversos e, assim, impedir a
transmissibilidade dessas doenças. Por isso, as medidas de saneamento básico e
a luta anti-vectorial são a forma mais eficaz de prevenção destas doenças que
são perfeitamente evitáveis.
As enchentes nos
hospitais e centros médicos têm desencorajado os doentes a procurar
precocemente os cuidados médicos e assim, muitos dos casos chegam aos hospitais
em estádios avançados da doença e, em muitos casos, com formas complicadas da
doença. As crianças, particularmente, são bastante vulneráveis à anemia que se
desenvolve nessas situações, requerendo, em muitos casos, transfusões de sangue
para inversão da situação.
Ante este afluxo
acrescido de doentes, os hospitais têm revelado absoluta impotência para
responder à demanda, sendo os principais pontos de constrangimento os
seguintes:
1) Pessoal médico
e de enfermagem insuficiente, o que torna o atendimento lento, algumas vezes
inexistente, com os doentes a levarem, na maior parte dos casos, acima de cinco
horas para serem atendidos, o que agrava ainda mais o quadro e provoca a
ansiedade por parte dos familiares, geradora de tensões passíveis de descambar
em atitudes violentas;
2) Espaço físico
limitado para albergar doentes e acompanhantes, mormente no caso das crianças,
ocasionando, para todos, funcionários e utentes, grande desconforto e risco
acrescido para a transmissão de outras doenças como, por exemplo, as
respiratórias;
3) Falta de
medicamentos para os primeiros socorros, nomeadamente
analgésicos/antipiréticos, anticonvulsivos e soros, para corrigir
desequilíbrios hemodinámicos, dificultando a prontidão na assistência ao
doente;
4) Material
gastável insuficiente e até mesmo inexistente, nomeadamente seringas, luvas,
sistemas de infusão endovenosa (soros) e outros;
5) Suporte
laboratorial deficiente, por incapacidade técnica dos laboratórios instalados
nos serviços de urgência, onde os equipamentos são rudimentares, os reagentes
quase sempre inexistentes e o pessoal técnico de igual modo, insuficiente para
a demanda.
É este
desequilíbrio entre o fluxo aumentado de doentes que procuram cuidados médicos
e as condições minguantes existentes nos hospitais que explica o caos que hoje
assistimos nos hospitais de Luanda, da rede pública. Pode-se afirmar,
categoricamente, que o sistema entrou em colapso, daí as elevadas taxas de
mortalidade que caracterizam o quadro desses hospitais, nos últimos tempos.
Informações fidedignas e praticamente irrefutáveis apontam para uma média de 25
mortes por dia, no Hospital Pediátrico de Luanda e no Serviço de Pediatria do
Hospital Américo Boavida.
No caso deste
último, se acrescentarmos uma média de 5 a 7 mortes por dia, de doentes adultos,
somando enfermarias e urgências, estaremos a falar de cerca de 30 mortes por
dia, o que representa uma taxa de mortalidade escandalosamente elevada para um
hospital de nível terciário. As taxas de mortalidade diária são igualmente
elevadas em outras unidades sanitárias, nomeadamente no Hospital Josina Machel,
no Hospital Geral de Luanda, na Maternidade Lucrécia Paim, no Hospital do
Cajueiro e em toda a rede de hospitais municipais. Portanto, contas feitas,
estima-se que estão a morrer nos hospitais de Luanda uma média diária de 150
pessoas, uma cifra assustadora, brutal e escandalosa, para a qual as
autoridades sanitárias do país ainda não despertaram. Nem mesmo o grito
lancinante de socorro dos médicos do Hospital Pediátrico parece ter comovido os
corações endurecidos dos membros do Executivo do Presidente José Eduardo dos
Santos.
Estamos perante
uma situação de emergência, semelhante, por exemplo, à situação criada pelo
surto de Marbourg que assolou a região norte do país, há uns anos. Não se pode
ficar indiferente diante deste trágico cenário, pois estamos a falar de cerca
de 5 000 pessoas que podem perder a vida num mês por causas que são
perfeitamente evitáveis.
Tratando-se de uma situação de emergência, impõem-se
medidas vigorosas e céleres que revertam, de forma activa, o quadro presente.
Não se pode esperar que a imunidade natural adquirida e o quadro sazonal se
encarreguem de diminuir passivamente a incidência dessas doenças. É preciso
agir rapidamente e de forma determinada para evitar que mais mortes ocorram..
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