6/4/14
Portugal e Angola
no Le Monde
“Os recursos de
Angola semeiam a confusão em Portugal” é o titulo do trabalho da jornalista
Claire Gatinois.
O artigo do
jornal francês Le Monde, onde são debatidas as relações entre Portugal e
Angola, Guiné Equatorial e Moçambique, chega depois da Cimeira entre a União
Europeia e os países do continente africano, criticando fortemente os
dirigentes portugueses, por fazerem negócio sem qualquer filtro, bastando
apenas que para isso exista dinheiro, mas também os líderes africanos, por
corrupção, lavagem de dinheiro e, sobretudo, por ignorarem os Direitos Humanos.
Publicado na
edição da última quarta-feira, o trabalho é assinado pela jornalista Claire
Gatinois, enviada especial em Lisboa. Na peça sob o título “Os recursos de Angola semeiam a confusão em
Portugal”, a jornalista afirma que “Portugal já pesou os ganhos que representam
as suas ex-colónias para a sua economia, desgastada pela crise e pela
austeridade”, acrescentando: “mesmo que às vezes isso choque os defensores dos
Direitos Humanos”.
Claires Gatinois
apresenta ainda a estrutura do périplo do primeiro-ministro português Pedro
Passos Coelho em território africano, lembrando os acordos celebrados com
Moçambique e com a Guiné Equatorial, futura parceira de Portugal na CPLP. Sobre
a Guiné Equatorial refere ainda que, apesar de Teodor Obiang ser um dos chefes
de Estado mais ricos de África, no país, uma em cada dez crianças morre antes
dos cinco anos (dado da Unicef). A investigação francesa a que está a ser
sujeito um dos filhos de Obiang, por suspeita de “lavagem de dinheiro”, também
é apresentada no trabalho. Relembrando ainda que o Governo da Guiné Equatorial
assinou um acordo para comprar uma participação no Banif, banco português
nacionalizado”.
Sobre as relações
com Angola, apontado enquanto “um dos países mais corruptos do Mundo, segundo a
Transparência Internacional”, a jornalista francesa considera que Portugal
“escancara os braços”, citando por várias vezes Celso Filipe, o jornalista
português autor de um livro de investigação sobre o poder financeiro de Angola
em Portugal.
Fala de dos
investimentos de Luanda em mais de 20 empresas portuguesas, algumas cotadas na
Bolsa, no sector dos Recursos, Banca, Imprensa e Agroalimentar. As empresas
Galp, Banco Bic, BCP, BPI, Unitel, Cofina, Impresa ou a Cofaco, são alguns do
exemplos apresentados no artigo do Le Monde.
A peça
jornalística aponta enquanto grandes investidores nacionais Isabel dos Santos,
Manuel Vicente, o general Kopelika, Manuel Hélder Vieira Dias, e preconiza para
breve a entrada em cena de outro filho de Eduardo dos Santos: José Filomeno dos
Santos, responsável pela gestão do fundo soberano do país, avaliado em cinco
mil milhões de dólares.
O responsável em
Portugal da Transparência Internacional, João Paulo Batalha, considera que, com
a crise, Portugal “teve a oportunidade de limpar a corrupção no país, mas optou
por exportá-la [através da implantação de empresas portuguesas em Angola, em
particular na construção civil], e de eliminar as barreiras da integridade
[escolhendo] fazer negócios com qualquer um”.
“Nós temos
necessidade do dinheiro de Angola, mas Angola precisa de nós”, considera Celso
Filipe, citado no artigo. “Há sem dúvida um pouco de hipocrisia, mas não é só
em Portugal. A família dos Santos tem investido noutros lugares na Europa”,
termina.
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